A visita - Conto de Daniel Teixeira
O homem que eu procurava era muito magro, disse-me a Ana quando me indicou a casa dele, e parecia estar muito doente, acrescentou. Sim, devia estar, foi só o que disse à Ana mas a Helena quando me falou que eu devia ir visitá-lo tinha referido em voz muito baixa e comovida que ele devia estar muito doente, em final de vida, pensava ela.
Exilara-se para ali para estar em paz consigo mesmo e a sós consigo mesmo e quando ela lhe telefonara ele dissera-lhe que não queria que ela, a Helena, fosse lá a sua casa. Talvez não quisesse que a filha o visse assim, acho eu mas a mim recebeu-me bem quando lhe disse que ia a mandado da Helena.
Exilara-se para ali para estar em paz consigo mesmo e a sós consigo mesmo e quando ela lhe telefonara ele dissera-lhe que não queria que ela, a Helena, fosse lá a sua casa. Talvez não quisesse que a filha o visse assim, acho eu mas a mim recebeu-me bem quando lhe disse que ia a mandado da Helena.
Talvez fosse por isso que eu via ali nele, perante mim, um alheamento, uma indiferença, um olhar vago, um olhar que queria dizer que agora tanto se lhe dava que o visitassem ou não.
A Helena devia ter percebido que ele lhe tinha dito para não o visitar querendo que ela fosse lá vê-lo, porque é assim que as coisas se passam muitas vezes, ele não queria que ela o visse mas queria vê-la a ela, queria despedir-se dela, dizer-lhe adeus ou para sempre ou até um dia.
Depois foi pouco mais que um minuto o tempo que esteve comigo, nem sei ao certo mas foi tudo muito rápido. Talvez tivesse muita coisa em que pensar, pensei eu, as pessoas quando estão a morrer vêm todo o seu passado e um passado com muitos anos tem de ser repensado em muito menos tempo. Só há aquele tempo que resta para repensar tudo, ou as coisas mais importantes, talvez seja só isso, só se deve pensar nas coisas mais importantes.
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