Ganhões - Texto de José Francisco Colaço Guerreiro
Os descantes partiam da vila como um murmúrio, subiam de tom ao passar das cercas e prolongavam-se caminhadas fora.
Durante a jornada, os mais afoitos e os ganhantes na arte, davam a deixa do começo e todos os outros pegavam depois na moda, aberta ao improviso dos requintas, sempre aconchegante para o conjunto, por isso repetida até à exaustão, no troar do coro que unido como as vozes, avançava no êxtase seara dentro. Por ser bálsamo e dínamo, o cante era envolvente das gentes e do trabalho. Por ser fio condutor, continuava a unir os corpos mesmo já depois, altas horas, no encosto de um balcão onde o vinho se emborcava, também ele uma ajuda dissolvente para as mágoas.
Necessidade, amparo e vicio, tudo isto a moda era.
Lá bem no fundo do nosso tempo, os contornos da memória perdem-se , numa mistura de paixão e sons, imagens e situações, apenas emergindo cantares e gestualidades que de uma forma atávica os homens agora vão repetindo, como sina sua como eco da tradição.
E tal como se lembram as letras e se perpetuam as vaias, iguaizinhas desde há séculos, também se veneram os seus intérpretes. Menos do rijo , na interioridade das recordações , mas sempre com um véu sublime de admiração e estima, pronunciam-se palavras quase mágicas que são nomes de pessoas que cantaram como os rouxinóis e que, apesar de tudo e só por isso, nunca serão esquecidos.
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