segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A Morte, o Tempo e o Velho - Conto por Mia Couto

 
 
A Morte, o Tempo e o Velho - Conto por Mia Couto 
 
Transcrição integral do conto «A Morte, o Tempo e o Velho» do livro «Na berma de nenhuma estrada» de Mia Couto
 
O homem se via envelhecer, sem protesto contra o tempo. Ansiava, sim, que a morte chegasse. Que chegasse tão sorrateira e morna como lhe surgiram as mulheres da sua vida. Nessa espera não havia amargura. Ele se perguntava: de que valia ter vivido tão bons momentos se já não se lembrava deles, nem a memória de sua existência lhe pertencia? Em hora de balanço: nunca tivera nada de que fosse dono, nunca houve de quem fosse cativo. Só ele teve o que não tinha posse: saudade, fome, amores.
 
Como a morte tardasse, decidiu meter-se na estrada e caminhar ao seu encontro. Tomou a direcção do oeste. Na sombra desse ponto cardeal, todos sabemos se encontra a moradia da morte.
 
Iniciou a sua excursão rumo ao poente sem que de ninguém se despedisse. Os adeuses são assunto dos vivos e ele se queria já na outra vertente do tempo. Caminhava há semanas quando avistou um homem alto, um rosto de enevoados traços. Trazia pela trela um bicho estranho, entre cão e hiena. Animal mal-aparentado, com ar maleitoso.
 
- Esta é a morte - disse o homem apontando o cão. E acrescentou - Sou eu que a passeio pelo mundo.

Leia este tema completo a partir de 19 de Fevereiro carregando aqui.

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