terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Cría Cuervos (1976) (Carlos Saura) - Por Emanuella - Cinema pela Arte

 
Cría Cuervos (1976) (Carlos Saura) - Por Emanuella - Cinema pela Arte 
 
«Não acredito no suposto paraíso da infância. Ao contrário, me parece que a infância constitui uma etapa durante a qual o terror noturno, o medo do desconhecido, o sentimento de incomunicabilidade e a solidão estão presentes do mesmo modo que a alegria de viver e a curiosidade, das quais se fala bem mais.» — Carlos Saura

Escombros do paraíso infantil

Excelente elemento da fase politizada do diretor espanhol Carlos Saura. «Cría Cuervos» (1976) faz da morte, tanto pela época quanto pelo argumento, o principal constituinte de seu âmago. Filmado durante os derradeiros dias da vida de Francisco Franco, o filme, alegoricamente poderoso, evoca o esboroamento do franquismo com absoluta lucidez.
 
Ao relacionar obscuridade com infância, Saura confronta as opiniões formadas e simultaneamente desvincula a ingenuidade da conduta infantil. Por mais fulgurante que seja a atuação de Geraldine Chaplin, como as outras colaborações da atriz com o diretor com o qual manteve uma união de doze anos, um pequeno tesouro resplandece com intensidade ofuscante — Ana Torrent, com uma desenvoltura incompatível com a idade, explora seu talento enquanto
 
Saura regista a interpretação que impressiona a todos os espectadores sem exceção.
A personagem principal de «Cría Cuervos» é observadora da falência da instituição familiar.
 
Pai e mãe, fracassados como marido e mulher, morrem em um pequeno espaço de tempo. A casa grande, que já demonstra sinais de decrepitude (a enorme piscina vazia e imunda), tem a morte tão presente que parece impregnada por miasmas. Os olhos expressivos da criança olham fixamente para a porta do quarto do pai ainda vivo, na cama com uma mulher casada.
 
Os sons que saem do recinto são assustadores, o homem agoniza e com o tempo saberemos que a menina espera mais que um simples flagrante.
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário