Cría Cuervos (1976) (Carlos Saura) - Por Emanuella - Cinema pela Arte
«Não acredito no suposto paraíso da infância. Ao contrário, me parece que a infância constitui uma etapa durante a qual o terror noturno, o medo do desconhecido, o sentimento de incomunicabilidade e a solidão estão presentes do mesmo modo que a alegria de viver e a curiosidade, das quais se fala bem mais.» — Carlos Saura
Escombros do paraíso infantil
Excelente elemento da fase politizada do diretor espanhol Carlos Saura. «Cría Cuervos» (1976) faz da morte, tanto pela época quanto pelo argumento, o principal constituinte de seu âmago. Filmado durante os derradeiros dias da vida de Francisco Franco, o filme, alegoricamente poderoso, evoca o esboroamento do franquismo com absoluta lucidez.
Escombros do paraíso infantil
Excelente elemento da fase politizada do diretor espanhol Carlos Saura. «Cría Cuervos» (1976) faz da morte, tanto pela época quanto pelo argumento, o principal constituinte de seu âmago. Filmado durante os derradeiros dias da vida de Francisco Franco, o filme, alegoricamente poderoso, evoca o esboroamento do franquismo com absoluta lucidez.
Ao relacionar obscuridade com infância, Saura confronta as opiniões formadas e simultaneamente desvincula a ingenuidade da conduta infantil. Por mais fulgurante que seja a atuação de Geraldine Chaplin, como as outras colaborações da atriz com o diretor com o qual manteve uma união de doze anos, um pequeno tesouro resplandece com intensidade ofuscante — Ana Torrent, com uma desenvoltura incompatível com a idade, explora seu talento enquanto
Saura regista a interpretação que impressiona a todos os espectadores sem exceção.
A personagem principal de «Cría Cuervos» é observadora da falência da instituição familiar.
Pai e mãe, fracassados como marido e mulher, morrem em um pequeno espaço de tempo. A casa grande, que já demonstra sinais de decrepitude (a enorme piscina vazia e imunda), tem a morte tão presente que parece impregnada por miasmas. Os olhos expressivos da criança olham fixamente para a porta do quarto do pai ainda vivo, na cama com uma mulher casada.
Os sons que saem do recinto são assustadores, o homem agoniza e com o tempo saberemos que a menina espera mais que um simples flagrante.
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