Tocha humana - Conto / Crónica de José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)
Para aquelas pessoas, aquele não seria um dia comum como um outro qualquer. Havia muita tristeza entre elas e o motivo era dolorosamente visível: a despedida de mais um que partia para terras distante; somando-se, com ele, o terceiro a se ir.
Não chore, minha gente! Eu voltarei são e bem de vida. Garanto! – foi o que todos ouviram daquele filho que ora repetia a mesma fala antes dita por outros irmãos na hora do adeus.
- Antenor, se avexe! Temos que ir embora. - disse-lhe o irmão Cícero, acrescentando um aconselhamento de irmão para irmão: não foi fácil eu viajar mais de dois mil quilómetros só para vir te buscar, meu irmão! A vida, aqui neste lugar, é mais difícil do que em qualquer outro lugar do mundo. Aqui não tem nada, minha gente! Lá onde eu moro, tenho de tudo que se possa querer. Você viverá bem, meu irmão, pois o dinheiro para quem trabalha, jorra, entendeu? - e concluiu proferindo: mano, você terá sucesso!
A cabeça de Antenor estava feita. Ele enfeitara-se com as palavras do Cícero - o irmão mais velho -, a quem cabia-lhe obediência e respeito, e decidira ir embora custasse o que custasse.
Até o grande amor por Juliana - carinhosamente chamada de Ju -, que ele mantinha lapidado desde a mais tenra infância, agora estava fragmentado em outro plano: primeiro, ele iria ganhar bastante dinheiro no Sul e depois voltaria para casar com ela. Esta, agarrada a seu braço desmoronava-se em soluço e lágrimas.
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