domingo, 16 de fevereiro de 2014

Inesperado Encontro - Conto por Maria Petronilho

 
Inesperado Encontro - Conto por Maria Petronilho 
 
Ele estava sentado num ramo caído.
 Era magro, grisalho, e segurava um raminho com que ia desenhando enigmáticos sinais no chão. Parecia absorvido no meio cinzento, uniforme, em que o englobavam a terra e o céu.
 
 O colete era castanho. A camisa verde azeitona. As calças estavam rotas, manchadas, queimadas nas bainhas. Os dedos dos pés saíam da biqueira das botas.
 Eu viera caminhando ao acaso pelo campo, deixando o caminho pedregoso que me balançava os ossos a cada passo. Cansava a monotonia daquela cor única, tom sobre tom de cinza, até onde a vista alcançava.
 
 Quando dera com a pequena figura, estava já tão perto dela que me sobressaltei, por inesperada e porque por pouco a não pisei. Mas ele nem pestanejou. Continuou desenhando no chão com a ponta do galho.
 
 Discerni estrelas e folhas entre sinalefas. Um respeito enorme me invadiu. Queria meter conversa, perguntar-lhe quem era, o que fazia… mas sentia um nó na garganta.
 Magoava-me porém a sua absoluta indiferença.
 
Jamais imaginara que fossem reais e não lendas; que existissem em terras do sul, pois tudo o que lera sobre eles se passava em setentrionais lugares, de abetos, aceres, veados de galhadas descomunais disputando os seus haréns sobre tapetes fofos de folhas carmim e ouro, verdes relvas, riachos cantantes que em breve seriam fitas de gelo.
 
 

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