terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Cinema: Tulpan - Um ideal na paisagem agreste do Cazaquistão

Cinema: Tulpan - Um ideal na paisagem agreste do Cazaquistão

Na paisagem desolada de um Cazaquistão quase desértico, algures entre os mais de 2 500 000 quilómetros quadrados por onde se estende um dos maiores países do mundo, Asa é um jovem marinheiro ao serviço da armada russa de regresso a casa.

Casa, aqui, significa pouco mais que uma enorme cabana circular feita de paus e panos que alberga a família da irmã, seu marido e três filhos e a todos protege dos ventos agrestes que de tempos a tempos os fustigam.

É ainda o lugar onde os homens retemperam forças depois do árduo apascentar do seu rebanho; onde se trocam notas, que ecoam como pássaros da cristalina voz de Askhat, e notícias, que trágicas e urgentes saem do rádio de pilhas de Beke. É onde o mais pequenino brinca, a Mãe cuida, o Pai trabalha e Asa sonha.

Sonha abandonar a condição de nómada, do mar imenso ou da terra sem fim, e encontrar o seu amor, o seu pedaço de paisagem, fundar o seu próprio rebanho e a sua própria família.

Ao conhecer a bela Tulpan, de uma família vizinha, Asa entrega-se à vertigem do Amor e com uma fé inabalável enfrenta a dureza do dia-a-dia, firme no propósito de a conquistar.

Interessante documento sobre a remota forma de vida nómada das estepes do Cazaquistão, "Tulpan" é também uma obra de contrastes: opondo-se à desolação de uma paisagem, a sua simultânea beleza; à rudeza de uns, a doçura de outros; à dificuldade de ultrapassar os obstáculos do amor, a extraordinária simplicidade do sentimento em si e a força de acreditar e perseguir um ideal; à crueza de uma morte aqui, o encantador milagre da vida acolá.

Combinando de forma curiosa os géneros documental e dramático, o primeiro tão querido ao realizador cazaquistanês , esta estreia na longa metragem de ficção mereceu a Sergei Dvortsevoy a candidatura e a atribuição, em 2008, de prestigiados galardões como o Grande Prémio de Tóquio, Prémio do Júri do Festival de São Paulo, Un Certain Regard em Cannes e, finalmente, uma Menção Honrosa da SIGNIS no Festival de Cinema de Cottbus (Alemanha).

Um filme raro de ritmo e proveniência pouco comuns, que só uma boa rabanada de vento de tempos a tempos nos traz!

Margarida Ataíde

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