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Luís Piçarra uma voz imensa hoje desconhecida Alberto Franco referiu que "se conhece pouco de uma carreira que nos ultrapassou como país, porque somos um povo que não cultiva a memória". Por outro lado, o autor criticou a lacuna de estudos na área da música ligeira, "fruto do ferrete com que ficou marcada a música ligeira produzida antes de 1974, qualificada como 'nacional-cançonetismo'". Franco afirmou que "debaixo desse chapéu [nacional-cançonetismo] não se faz distinções e cabe o bom e o mau, mas colou-se como algo com falta de qualidade e que era em tudo idêntico ao que se fazia na Europa até à década de 1960". A biografia, com a chancela das Edições Colibri, procura traçar o percurso de "um português à solta", nascido em 1917 em Moura, e que cantou com Edith Piaf, pisou importantes palcos no Brasil, França e Itália, além de ter sido cantor residente da Corte do Rei Faruk, do Egipto, e realizado várias digressões pelas ex-colónias portuguesas. "Foi um sucesso brutal", sublinhou Alberto Franco que referiu que "muitas das gravações feitas no estrangeiro por Luís Piçarra estão hoje dadas como perdidas". Em Paris, em 1951, no auge da carreira, era conhecido como Lou Pizarra, tendo sido estrela do Teatro Gaité-Lyrique, o mais importante da opereta na capital francesa. Um êxito alcançado na senda do espanhol Luís Mariano, Lou Pizarra foi protagonista de operetas como "Colorado" e foi estrela em 26 programas de rádio, em que actuou em duo com Piaf. Para fazer esta biografia, o autor consultou o arquivo da família do cantor que popularizou temas como "Caminho errado" ou "Alcobaça" e utiliza fotografias inéditas actualmente na posse dos filhos Luís e Mário, com os quais "o cantor tinha alguma distanciamento dada a sua alma de cigano e a profissão". "O propósito era fazer uma fotobiografia, mas por razões várias optou-se por uma biografia que desse a conhecer o enorme prestígio de Piçarra", esclareceu o autor. Alberto Franco considera que o cantor, falecido em 1999, viveu os últimos anos "amargurado pelo não reconhecimento e marcado por esse ferrete do nacional-cançonetismo". Uma amargura que, segundo Alberto Franco, "foi e é partilhada por muitos artistas da época e que dividiram palco com Piçarra". "Luís Piçarra tinha uma ambição saudável e sabia o valor que tinha, tendo escolhido partir para o Brasil logo após a II Grande Guerra, pensando que seria mais valorizado que cá em Portugal", referiu. O interesse de Alberto Franco por Piçarra deveu-se ao facto de serem conterrâneos, mas também "pela incrível fama que alcançou, sem se ter hoje esse eco, e também pela sua vida aventurosa a que não é alheio o enorme talento". Alberto Franco, 48 anos, é licenciado em Direito e tem publicados, entre outros, "A Planície - Uma voz na década do silêncio", "O homem que matou Sidónio Pais" e "Fialho - Gastronomia alentejana". (ES) |
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