segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"Antigono" volta a Lisboa 250 anos depois

Teatro

"Antigono" volta a Lisboa 250 anos depois

A afirmação foi feita por Carlos Pimenta, diretor cénico de "Antigono" e um dos elementos da equipa que estreia internacionalmente, após mais de dois anos de trabalho, este espetáculo que estava em cena na Ópera do Tejo à data do Terramoto de 1755.
Pimenta sublinhou que este é o culminar de um projeto "desde a reconstrução da partitura à descoberta do libreto ou ao trabalho de investigadores e musicólogos, sem o qual era impossível resgatar do fundo esta ópera", agora concebida "com um pé no século XVIII e outro no XXI".
"'Antigono` estava enterrado nos escombros do terramoto de 1755 e era uma ópera que não tinha memória", sublinhou o diretor cénico do espetáculo, o qual repete no dia 23.
Sem a preocupação de fazer um trabalho arqueológico ou uma reconstituição do que teria sido a original – até porque não há quaisquer imagens – o diretor cénico pretendeu dar-lhe um "olhar contemporâneo, pô-la nos nossos dias e mostrá-la ao público com os meios de hoje".
Por isso o cenário da ópera é o mais depurado possível, vivendo à base da voz dos cantores, que cantam parados voltados para o público à maneira barroca.
Apenas a projecção à volta da boca de cena de gravuras antigas com imagens da Ópera do Tejo - algumas do arquiteto do edifício, Carlos Sicinio Galli-Bibiena - e a retroprojeção de desenho digital em tempo real de António Jorge Gonçalves servem de adereço ao espaço cénico.
Preto, vermelho e cinza são os tons do figurino, de José António Tenente que se estreia nestas lides, e as retro-projecções, à base de azul, preto e branco, recriam jardins interiores, salas com estátuas e pinturas e o fosso de um castelo com cárceres.
Composta por Antonio Mazzoni e com libreto de Pietro Metastasio (1755), "Antigono" conta a história de Berenice, rainha do Egipto, que chega à Macedónia para casar com o rei Antigono, depois de ter rejeitado Alessandro, rei de Epiro.
Antigono suspeita que Demetrio – o seu filho predilecto – está apaixonado por Berenice e ameaça-o com o exílio ao mesmo tempo que Alessandro invade a Macedónia para obter Berenice.
Composta por três atos, com dois intervalos, "Antígono" é uma ópera de perto de quatro horas.
Embora não estivesse prevista a gravação em imagens, será feita em DVD e Blue Ray e também em CD para uma futura edição, disse Carlos Pimenta.
Entretanto, está a ser elaborado um documentário sobre a produção desta ópera cuja estreia estava prevista para 2005, nos 250 anos do Terramoto.
Carlos Pimenta admitiu a possibilidade de a ópera ser levada a outras salas e a festivais, mas explicou que a maior dificuldade está no facto de entre os músicos e os cantores se contaram muitos estrangeiros de diferentes nacionalidades. Dos seis cantores, apenas Ana Quintans é portuguesa.
Interpretados originalmente por castrati, dois papéis masculinos são agora cantados por mulheres, como na ópera italiana do século XVIII.
Com a orquestra barroca Divino Sospiro dirigida por Enrico Onofri, os cantores são Michael Spyres (Antigono), Martín Oro (Alessandro), Geraldine McGreevy (Berenice), Pamela Lucciarini (Demétrio), Maria Hinojosa Montenegro (Clearco) e Ana Quintans (Ismene).
Legendada em português, "Antigono" tem desenho de luz de Nuno Meira e programação multimédia de Rui Madeira. A reconstrução da partitura e a edição crítica são de Nicholas McNair.
(ES)



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