António Pires encena "A Paixão de São Julião Hospitaleiro"
A Lenda de São Julião Hospitaleiro é um dos três contos que Gustave Flaubert publicou num pequeno volume intitulado Trois Contes, em 1877. A inspiração ter-lhe-á surgido ao ver os vitrais do século XIII da catedral de Rouen e também pela leitura de textos da época. Mas a lenda de São Julião também tocou Amadeo Souza Cardozo que para além de a copiar a ilustrou com desenhos cujo traço é bem a sua marca. António Pires agarra em todos estes elementos e começando uma história quase infantil pela ingenuidade, atravessa rapidamente o espaço e o tempo, colocando-nos perante uma tragédia grega. O coro da tragédia conta ao espectador a história de Julião e vai alertando para o fim horrivel que se adivinha. Com o desenrolar da acção somos confrontados com o carácter de um santo que mata, animais, por prazer e que se questiona sobre o porquê da sua existência e qual o seu destino. Ao Hardmusica António Pires, que já encenou D. Quixote, Werther, Moby Dick, diz que o destino do Homem e os caminhos que segue são temas obrigatórios em teatro porque "é para isso que serve o teatro, para pôr o espectador a pensar." Talvez por toda a guinástica mental a que obriga o espectador, a violência dos actos e das palavras António Pires considera que esta peça é "violenta".
A encenação é de António Pires e a adaptação de Maria João Cruz a partir do conto de Gustave Flaubert e outros textos de Nietsche, Santo Agostinho, Freud, Rimbaud, num meritório trabalho de investigação. A interpretação está a cargo Maria Rueff, uma ama prenunciadora dos acontecimentos, Maya Booth, Mitó Mendes, um elemento do coro da tragédia grega, David Almeida, Graciano Dias, Marcello Urgeghe. Porque António Pires quer e precisa de música nos seus trabalhos o hip hop salutar e desanuviante surge pelos corpos de André Cabral, X2 Rock, Sugah Funk.
A estreia está marcada para 6 de Janeiro. Um espectáculo que aconselhamos a quem gosta de teatro não só pelo texto que é encenado mas pelo trabalho que resulta dessa encenação.
fotos Mário Sabino de Sousa
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