O ano de Mahler e Liszt
"Mahler e Liszt são património da cultura mundial, menos de Portugal", disse à Lusa o maestro, referindo-se a dois compositores "centrais na história da música". Se a Orquestra Metropolitana não tem previsto tocar qualquer sinfonia de Mahler, a programação musical da Fundação Gulbenkian dedica um espaço especial não só com obras do compositor nascido na Boémia como dos seus contemporâneos e aqueles que directamente influenciou. Quanto a Liszt o pianista António Rosado apresentará na Casa da Música um recital integralmente constituído por obras do compositor também nascido na Boémia. "Liszt é um compositor absolutamente central e definitivo na história do piano", disse à Lusa Rosado que recordou ter sido "o primeiro a apresentar-se a solo, sozinho num palco" e foi considerado "um virtuoso do piano, quando Paganinni, o era do violino. Liszt foi um caso de estrelato". António Victorino d'Almeida concorda com esta afirmação mas refere que "estudos russos recentes revelam que [Liszt] estaria ao nível de qualquer actual bom aluno do conservatório". Porém, a sua escrita para piano é de tal forma clara e bem estruturada "que se torna fácil tocá-lo para qualquer grande pianista, um [António] Rosado ou [Artur] Pizarro". Victorino d'Almeida acentuou antes o facto de ter sido Liszt "o homem que abre caminho a [Richard] Wagner, e o criador, por assim dizer, da fórmula do 'poema sinfónico'". Liszt nasceu em 1811 em Raiding, uma pequena vila boémia da Hungria, mas a sua nacionalidade tem sido alvo de aceso debate científico. O compositor considerava-se húngaro, apesar de não ser o húngaro a sua língua materna, e viajou sempre com passaporte do reino da Hungria. Gustav Mahler nascido há 150 anos em Kalischt na região da Boémia sob a coroa austríaca, "era regente de orquestra durante o Inverno e compositor no Verão", disse à Lusa o maestro Cesário Costa. Esta dupla faceta permitiu-lhe antecipar "problemas" pois "quando escreveu estava já a pensar na parte respectiva de cada naipe de músicos colocando notas como 'não apressar', pois pela experiência que tinha, sabia que há uma tendência natural dos músicos para num certo tipo de escrita tocarem mais rápido", disse Costa. Mahler inovou ao trazer "para dentro da melodia" chocalhos de vacas, em duas sinfonias suas, ou um martelo de palco que "numa sinfonia faz um estrondo colossal", disse Victorino d'Almeida que contesta a ideia de soturnidade na sua música afirmando antes que "há por vezes explosões de luminosidade". A ideia de soturnidade está, defendeu, "mais ligada à sua personalidade". Cesário Costa por seu turno, referiu: "Mahler afirmou que a sinfonia é o mundo e deve abarcar tudo e como tal encontramos uma polifonia muito subtil ou muito complexa e ao mesmo tempo uma simplicidade quase infantil". António Victorino d'Almeida afirmou que Mahler foi tardiamente reconhecido, e que só despertou a atenção quando a sua música foi a banda sonora do filme de 1971 "Morte em Veneza", de Luchino Visconti. "Hoje há editadas 17 integrais de Mahler pelos maiores maestros mundiais, o que representa muitos milhões de euros, e certamente esta dupla efeméride - 150 anos do nascimento e 100 anos da morte – irá interessar para vender mais uns quantos discos", disse o maestro Victorino d'Almeida. (ES)
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