segunda-feira, 24 de março de 2014

última vontade - Por Marcelo Pirajá Sguassábia


última vontade - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

- Como era da vontade do senhor Arquibaldo Calixto, e passados 30 dias do seu sepultamento, cabe-me agora abrir este envelope, à frente de todos da família, para conhecermos o destino que se dará ao seu espólio. Posso começar?
- Corre logo com isso, doutor, que eu já estou gastando por conta o que me é de direito.

- Aos dezoito dias do ano da graça de dois mil e ... bla, bla, bla, bla, bla, bla. Ei, espera aí...
- O doutor tá ficando verde, a mão tremendo... o que está escrito nesse negócio?
- Ele... ele está dizendo aqui que deixou tudo... não é possível... deixou tudo para mim! Lendo para vocês, textualmente: «Meus filhos e minha mulher não são merecedores de consideração nem de coisa nenhuma, muito menos de herança».

Desculpem, não sou eu que estou dizendo, é o que está escrito aqui, o desejo do falecido. Que situação, a minha. O envelope estava lacrado, vocês testemunharam a abertura. Continuando: «O senhor Salustino, na qualidade de titular do cartório da cidade, vem demonstrando, perante a lei de Deus e a dos homens, que é um sujeito digno e de caráter incorruptível, qualidades que nenhum membro da minha família possui» : é constrangedor isso tudo, eu fico embaraçado...

- Continua, doutor.
- Bom, o texto avança e entra em pormenores que denigrem muito cada um de vocês. Acho que não é o caso de prosseguir...
- Começou, agora vai até o fim. Vamos ver até onde chegou aquele velhote filho de uma...



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