domingo, 23 de março de 2014

O Direito e o Avesso - Crónica de José Pedreira da Cruz


O Direito e o Avesso - Crónica de José Pedreira da Cruz

Foi numa tardezinha quente de um trinta e um de dezembro, a bordo de uma barcaça e bem acompanhado, que realizei um passeio náutico entre a cidade do Rio de Janeiro e Niterói, numa espaventosa e reluzente viagem de estupefata beleza pela encantada Baía de Guanabara onde, vivenciei, sem dúvida, um dos mais belos e agradáveis momentos.

Na popa da embarcação assistíamos deslumbrados a um belíssimo final de tarde de um último dia de ano, enquanto uma agradável brisa soprava suavemente esvoaçando os nossos cabelos no ar.

Me envaideci com a radiante beleza do momento, o quê não nos permitia a mudes. Por isso comentávamos de tudo expostos às vistas: das aves marinhas sobrevoando suavemente sobre nossas cabeças; dos rastros de espuma deixados pelos aero-barcos; dos gigantescos aviões indo vagarosamente em direção à pista; do esplendor da ponte sobre o mar; do espetacular pôr-do-sol por detrás da metrópole; da beleza encantadora da Ilha Fiscal; do bonde do pão-de-açúcar rasgando as nuvem; da magnitude e esplendorosa visão do Cristo Redentor abraçando a cidade; das luzes de holofotes riscando o céu; da silhueta dos enormes navios próximos e à distância; dos turistas a bordo com suas falas incompreensíveis; da alegria dos jovens, no saguão cantando canções alusivas ao Ano Novo; das batucadas no salão inferior da nau, repleta de passageiros e, por fim, da nostalgia irradiada pela canção francesa «Sur le ciel de Paris» magnificamente executada no acordeom de um artista anônimo que animava os passageiros, o quê resultou num respeitoso silêncio de todos, que, agradecidos com a belíssima canção, agraciaram o músico com uma espetacular salva de palmas no exato momento em que a embarcação era atracada no cais do porto.
Foi uma tarde de encantamentos.


1 comentário:

  1. Crônica dura, cruel, humana, verdadeira e necessária.
    Que bom, meu amigo, que você tenha fotografado as imagens com os olhos de artista e escritor que és!
    Parabéns por mais esta "fotografia da humanidade".
    Um abraço,

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