A Cidade - Texto de Maria José Vieira de Sousa
Recolhido em Livres Pensantes
«A escrita tem as suas próprias leis de perspectiva, de luz e de sombras, como a pintura e a música. Se nasces com elas, perfeito. Se não, aprende-as. Em seguida, reorganiza as regras à tua maneira.» Truman Capote
A Cidade
1
Vista da Ponte, a Cidade parece intemporal e sem dúvida fascina-me o seu casamento com o rio e com o mar num braço aberto , mas foi sempre assim. Nunca passou esse fascínio para dentro dela. Acabrunhava-me a sua traça virada de costas para o rio e anulada qualquer ligação com o Mar pela muralha intransponível de prédios gigantescos enfileirados para o turismo em massa da sua Praia.
Há,contudo, uma certa emoção ao contemplá-la da Ponte, principalmente à chegada, apresentando-se imponente com o seu reflexo nas águas do Rio e deixando soltar uma paz adormecida na sombra de tanta casa anónima que vista deste ângulo não é possível identificar.
E é esse anonimato que explica a minha relação com a Cidade e vinte anos da minha vida. Não foi um caso de amor e muito menos de paixão que me levou para a Cidade. Era mais um lugar para viver que acumulava privacidade com um elemento paisagístico natural imprescindível para mim, a AGUA.
Não tinha muito dinheiro nem sequer conhecia o mercado imobiliário. Tinha vindo para o Sul e, como as praias estavam desertas , emprestaram-me uma casa numa Vila, à beira mar, situada perto da Cidade. Era um empréstimo a prazo, pois no Verão teria de sair.
Aprendi alguns anos mais tarde que a privacidade e o anonimato são fantasmas de outro tempo e de outra cidade que não esta . Foi contudo já muito tarde essa minha descoberta, não evitando todos estes acontecimentos que continuam vivos na minha memória.
Recolhido em Livres Pensantes
«A escrita tem as suas próprias leis de perspectiva, de luz e de sombras, como a pintura e a música. Se nasces com elas, perfeito. Se não, aprende-as. Em seguida, reorganiza as regras à tua maneira.» Truman Capote
A Cidade
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Vista da Ponte, a Cidade parece intemporal e sem dúvida fascina-me o seu casamento com o rio e com o mar num braço aberto , mas foi sempre assim. Nunca passou esse fascínio para dentro dela. Acabrunhava-me a sua traça virada de costas para o rio e anulada qualquer ligação com o Mar pela muralha intransponível de prédios gigantescos enfileirados para o turismo em massa da sua Praia.
Há,contudo, uma certa emoção ao contemplá-la da Ponte, principalmente à chegada, apresentando-se imponente com o seu reflexo nas águas do Rio e deixando soltar uma paz adormecida na sombra de tanta casa anónima que vista deste ângulo não é possível identificar.
E é esse anonimato que explica a minha relação com a Cidade e vinte anos da minha vida. Não foi um caso de amor e muito menos de paixão que me levou para a Cidade. Era mais um lugar para viver que acumulava privacidade com um elemento paisagístico natural imprescindível para mim, a AGUA.
Não tinha muito dinheiro nem sequer conhecia o mercado imobiliário. Tinha vindo para o Sul e, como as praias estavam desertas , emprestaram-me uma casa numa Vila, à beira mar, situada perto da Cidade. Era um empréstimo a prazo, pois no Verão teria de sair.
Aprendi alguns anos mais tarde que a privacidade e o anonimato são fantasmas de outro tempo e de outra cidade que não esta . Foi contudo já muito tarde essa minha descoberta, não evitando todos estes acontecimentos que continuam vivos na minha memória.
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