AS ORIGENS DO MERDOCK - Vieira Calado
Poucos, muito poucos, lhe conheciam a paternidade, ou a proveniência.
Mas diziam uns moços que às vezes apareciam junto ao Liceu, que o Merdock era seu conterrâneo. Segundo eles, o cachorro teria sido nascido e criado nas Campinas, - um lugar rural e isolado -, filho de mãe perdigueira e pai incógnito, provavelmente rafeiro – a avaliar pelas características físicas que patenteava.
Foi a progenitora quem lhe ministrou a instrução primária, as primeiras letras, por assim dizer. Extremosa mãe, como todas as mães, ensinou-o a coçar-se e a ganir, a estar sempre atento e a esquivar-se, a latir (mais tarde, a ladrar, mas só quando fosse necessário…), e a caçar.
A tenra infância do canito foi igual à de tantos outros – sem grandes sobressaltos, nem grandes mistérios. Apenas o que a Mãe Natureza vai trazendo todos os dias, aos jovens. Conheceu os animais domésticos e os répteis, aprendeu a distinguir os insectos inócuos, dos irritantes, maçadores, e invejou os pássaros. Várias tentativas fez para alcançá-los, procurando erguer-se nos ares, até ao céu que não entendia bem, tanto alegre e fagueiro, quanto brumoso e triste.
Ainda muito novo, se viu confrontado com a fatalidade da despedida, apercebendo-se de que todos os irmãos tinham partido para outros lugares, talvez outras vidas, outras lides.
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