Crónica de José Pedreira da Cruz - Em busca de um pesadelo
Todo indivíduo que nasce nas regiões mais carentes do Brasil carrega consigo o sonho de um dia pisar em terras cariocas ou paulistanas e lá adquirir uma vida melhor e, quem sabe, até tornar-se rico.
Este é o anseio de milhares de pessoas que aos poucos vão se deslocando de suas origens e esperançosos desembarcam no destino de suas aspirações e tão logo se mortificam na desilusão que os espera e passam a vagar pelas ruas como verdadeiros nómadas suburbanos: sem eira e sem beira, e foi neste contexto que conheci João da lata.
O frio era um dos mais impiedosos das últimas décadas e naquela inesquecível meia-noite de julho, lá estava eu com dois amigos, como voluntários, na Praça da Sé, marco zero da metrópole, tentando minimizar o sofrimento alheio com sopa quente, pão-de-forma e peças de vestuário adquiridas de terceiros.
Logo após anunciarmos que iríamos distribuir roupas e alimentos, verifiquei que muitas pessoas acorriam em minha direção, ai aflorou-me um sentimento de tristeza, mui tormentoso, ao me ver frente àquele quadro de inumanidade bem na sala de visita de uma das cidades mais prósperas das Américas.
A exuberância das ricas edificações, protegidas com suntuosa iluminação pública, nada tinha a ver de formosura frente à realidade da miserabilidade que me deparei e que me fez lembrar das personagens do romance O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain que, de tão dramáticas e sofridas, me fez relê-lo por várias vezes.
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