Crónicas da Infâmia - Do ( Des)amor - Por Maria José Vieira de Sousa
Recolhido em Livres Pensantes
Portugal foi sempre o meu país e a minha pátria. Todavia, creio que país e pátria já não são coincidentes, nem tão pouco complementares. Não sei se alguém o afirmou. Digo-o, apenas porque senti.
Um país preenche e ilustra um mapa. Uma pátria habita e adorna um coração.
A guerra começa quando se pretende apô-los e se descobre que essa pátria não veste aquele país e esse país não tem corpo para aquela pátria. Ficar sem pátria é, então, ter um coração apátrida. São os laços que se quebram num coração que passa a sobreviver sem essas amarras.
Assim ficou o meu coração. Apátrida de um país que me dá a nacionalidade. Apátrida de um país que me inclui na população residente. Apátrida de um país que existe ausente de mim. E nessa ausência, tento descobrir o que fez deste Portugal um país de tantas pátrias expatriado.
Confirmo, atónita, que foi também uma outra ausência. A maior talvez, porque é uma ausência vital - a ausência do amor. Sem ele, a infâmia vinga.
O amor, sentimento exigente, volatilizou-se adquirindo uma forma estranha que enviesa os dias e as gentes deste país. Arredou-se, em degeneração profunda, dando lugar ao (des) amor.
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