O Senhor Francisco - Conto de Daniel Teixeira
Quando me dirigi à Ana não havia mais ninguém nem por perto nem por longe. Aquele lugar parecia deserto mesmo a só tinha encontrado um velhote num alpendre sentado numa cadeira de balouço, balançando a um ritmo tão sincronizado que parecia fazer aquilo desde sempre.
O senhor Francisco - disse-me a Ana quando lhe falei disso, do velhote e do silêncio dele e de ele nem ter dado por mim e pelas minhas perguntas, e ter ficado sempre balançando, balançando e balançando.
Usava umas calças com suspensórios daquelas de ganga azul, uma camisa aos quadrados e um chapéu castanho. Eu não tinha ainda reparado no seu olhar parado e fui logo falando assim que comecei a subir os degraus para o alpendre onde ele estava: «Sabe dizer-me como posso ir para a quinta dos carvalhos?» foi o que eu perguntei e não tive resposta senão aquele balançar na cadeira e o olhar parado como se ele visse tudo sem mexer as pupilas.
Era estranho, tinha achado estranho eu e foi o que disse depois à Ana que andava mais abaixo pelo pequeno quintal que rodeava a sua casa tratando do jardim, um jardim pequeno, quase tão pequeno como parecia ser a sua casa. Mas não era pequena a casa dela, parecia pequena mas não era. Tinha um sótão enorme, foi o que ela me disse quando lhe falei que a casa dela era muito pequena.
Há pelo menos três anos que ele está assim...o senhor Francisco. Uma coisa triste, muito triste. O senhor Francisco teve um AVC : a filha dele não sabia o que fazer com ele e arranjou-lhe aquele lugarzinho ali que era onde ele se punha sempre a ver a sua horta em frente.
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