sábado, 8 de março de 2014

Coluna de Manuel Fragata de Morais - Momento de ilusão - Contos

 
Coluna de Manuel Fragata de Morais - Momento de ilusão - Contos
 
CARTAS

Minha Genoveva,
 
 Senta-te para que não caias de surpresa, já que é a primeira vez que nos falamos e poder-te-á ser, ou não, agradável o que vou contar.

Quando o meu bisavô foi para as Africas, já lá vão precisamente 98 anos, certamente ninguém pensou na sua aldeia que voltasse, mas foi o que fez, como talvez saibas. Deixou aí filhos com uma lavadeira negra, um deles o teu avô, de nome Miguel Gomes, só isso é que sei. Parece que vivia em Benguela e o teu pai ou a tua mãe, cujos nomes não conheço, se ainda forem vivos, por certo saberão confirmar o que digo. Sou, pois, tua prima afastada, sendo o nosso bisavô o mesmo, já que ele aqui tornou a fazer filhos, tendo-se casado com a minha bisavó, D. Engrácia Gomes.

Fique muito feliz quando recebi do consulado português em Luanda a indagação se por acaso um tal José Armando Gomes seria aquele que estivera em Angola de 1900 a 1930 e cujo assento de baptismo de um filho, Miguel Gomes, constava na paróquia do Carmo em Luanda. Acho que terás sido tu a inquirir, pois foi esse o endereço que me foi fornecido.
 
O resto, é este primeiro contacto. Manda-nos fotografias tuas e da família, explicando tudo muito bem, quem são e como estão.

O retrato que anexo, é do Augusto, meu marido, eu e o nosso filho Tobias, tirado no jardim zoológico o ano passado, quando fomos a Lisboa de férias. Por acaso tirada ao lado dos elefantes, quando ainda não sabíamos que tínhamos parentes em Africa, vê lá.

Tua prima que te adorará conhecer um dia.
 

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