Passeio a Lisboa - Texto de Lina Vedes
O dono dos grandes armazéns Dinfer, em Lisboa, era tio do meu pai. Todos da família eram do Coelhal, Figueiró dos Vinhos, e tinham abandonado o local de nascença por falta de mercado de trabalho. Era um meio rural de fracos recursos. Esse tio, Manuel José, fixou-se em Lisboa estabelecendo-se com sucesso, criando esses armazéns onde trabalhava com os cinco filhos.
O Alberto vinha muito a Faro como viajante representando a casa, vendendo às lojas os seus múltiplos artigos.
Muitas vezes prometeu levar-me a conhecer Lisboa. Ir a Lisboa era uma ambição minha… desmedida. Lá, até se falava dizendo correctamente «ei»…leite, dei-te, manteiga…
Num dia de férias de verão surgiu a oportunidade e abalei de carro, com o primo Alberto, até à capital; tinha 12 anos.
A viagem foi longa porque a Serra do Caldeirão, com as suas curvas, era uma barreira que separava o Algarve do Alentejo e o primo ia parando, a fazer venda e promoção dos seus artigos. Os armazéns Dinfer, além de retrosaria, vendiam tecidos, calçado, chapelaria, roupa interior e tinham-se lançado, na altura, na confecção. Como pioneiros do «pronto-a-vestir», a tarefa era árdua pois obrigava a convencer os consumidores, à mudança de hábitos.
Lembro-me de ter frio, de procurar um casaco para me agasalhar e ficar extasiada com as luzes que via brilhando ao longe, intensamente, e em grande quantidade.
- Ali é Lisboa – disse meu primo Alberto.
Compreendi, nesse momento, porque me disseram várias pessoas ao saberem que ia de visita à capital:
- Vais a Lisboa, leva um calhau para meteres na boca.
Compreendi, nesse momento, porque me disseram várias pessoas ao saberem que ia de visita à capital:
- Vais a Lisboa, leva um calhau para meteres na boca.
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