Bento - Conto de Abílio Pacheco
No bar, à noitinha, homens jogam sinuca, bebem, falam das mulheres que passam na rua... Bento sai do trabalho; cansado, camisa batendo de suor, para em frente ao bar, entra, senta, pede uma cerveja... bebê o primeiro copo de um só gole e pensa na vida:
A casa de tábua que há muito já quisera ele mesmo construir de alvenaria; até comprara um milheiro de tijolos, erguera uma parede, começara uma outra e o dinheiro não dera para mais nada.
A mulher dava aulas na única escola do bairro, uma creche pequena de apenas três salas, todas de madeira. A filha mais velha, 09 anos, cuidava da casa, limpava, fazia a comida lavava as ouças, cuidava do caçula, de dois anos, pela manhã, à tarde ia estudar e o deixava com a outra irmã de seis anos na casa de uma parenta da mãe que chamavam Tia mesmo sem saber se era realmente tia ou não.
Bento pede outra cerveja, nisso chega um amigo que senta e pede um copo.
Bento pede outra cerveja, nisso chega um amigo que senta e pede um copo.
O amigo, também pedreiro, fala futilidades; Bento olha a rua e deixa o olhar se perder, o pensamento vaga ao som da voz do amigo e de um breguinha que toca no bar...
Lembra de quando era menino, o pai chegava tarde da noite em casa, sempre bêbado; a mãe, impaciente, esperava na porta olhando a rua de uma extremidade a outra, ele acordava ouvindo os passos macios rondando a casa, levantava e dizia ir ao banheiro, quando se deitava custava a dormir, e às vezes só dormia depois que o pai chegava, brigava, xingava e até batia na mãe; outras vezes conseguia dormir e acordava ouvindo o pai brigando; triste, no quarto, Bento chorava, pensava besteira fazia planos, enchia-se de esperança no futuro; dormia...
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