quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

As "Memórias" de Rómulo de Carvalho

Livros

As "Memórias" de Rómulo de Carvalho

"Gostaria imenso (adoraria, como se diz hoje) que algum dos meus trinta e dois tetravôs se tivesse lembrado de mim e se dispusesse a deixar-me um maço de folhas bolorentas e amareladas onde me descrevesse a sua vida", escreve o pedagogo na introdução à obra coordenada pelo seu filho Frederico Carvalho e editada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
E acrescenta por que decidiu fazê-lo aos seus descendentes que ainda virão: "Estou pensando no gozo que poderei proporcionar-vos dando-vos notícias de mim e deste meu tempo tão distante do vosso".
Ao longo das 550 páginas do livro, o homem que começou a escrever poesia aos cinco e acabou a estudar Ciências e dedicou boa parte da vida a leccionar no ensino secundário, invoca o seu "gosto pelo saber", que lhe permitia conjugar os "interesses literários" com o "fascínio pelos rigores científicos".

O filho, Frederico Carvalho, 74 anos, considera que foi a "parte experimental" que fez pender a decisão para as ciências em detrimento das letras.
Muito metódico e arrumado, Rómulo de Carvalho, escreveu as "Memórias" de pé – "achava que [a posição] era mais saudável" do que sentado, segundo o filho – enquanto continuava a desempenhar várias outras actividades até de Muito metódico e arrumado, Rómulo de Carvalho, escreveu as "Memórias" de pé – "achava que [a posição] era mais saudável" do que sentado, segundo o filho – enquanto continuava a desempenhar várias outras actividades até de âmbito público, mesmo após os 80 anos.
"Não esteve em casa de pantufas a escrever", assegura Frederico Carvalho.
Sobre a obra, diz que é o auto-retrato de "um homem nas suas diferentes facetas", que "não esconde nada" do seu autor.
Apesar de ter começado cedo na poesia e publicado pela primeira vez aos 10 anos, haveria um longo interregno de quase 40 anos até que o seu talento poético fosse reconhecido publicamente, já com o pseudónimo de António Gedeão.
Pelo meio, muitos poemas terão sido destruídos, assegura o filho. Usava a poesia como um "bálsamo para o sofrimento interior", pelo que, quando ultrapassava os momentos maus" não se revia no que escrevera e rasgava as folhas.
Só depois dos 50 anos deu pela "importância" da sua escrita e da "utilidade que teria para os outros", um dos princípios pelos quais orientou a sua postura pessoal e profissional ao longo da vida, recorda o filho.
Poeta, historiador das ciências, pedagogo, apaixonado pela fotografia, produziu várias obras entre as quais "Física para o Povo" e "As origens de Portugal: história contada a uma criança". E terminou as memórias - tão organizadas que até o índice estava feito - com um simples "Adeus", deixando à mulher a única tarefa que não conseguiu concretizar: acrescentar a data da morte - "5.II.1997".
(ES)


Sem comentários:

Enviar um comentário