segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Poesia de Mário Matta e Silva - NO SONHO DO BEM - ME - QUER ; GEOGRAFIA DO MEDO; NOS MURMURIOS DA HARPA


Poesia de Mário Matta e Silva - NO SONHO DO BEM - ME - QUER ; GEOGRAFIA DO MEDO; NOS MURMURIOS DA HARPA

 

 NO SONHO DO BEM-ME-QUER

 

 Vou na amplitude da tarde
 colher a vastidão das planícies
 ofuscar-me nos brilhos do sol
 derramar por aí o meu próprio eu
 tão insolente e tão irrequieto
 no extravasar desse imenso rol
 de deusas e de musas que caem do céu
 aos trambolhões, em queda-livre
 sobre o amontoado de fantasias
 que vou construindo sem regras
 nem preceitos, nem esquadros
 dicionários, guias, mapas ou tratados
 mas que guardo para mim ao fim dos dias
 que se vêm misturar ao sono perturbado
 para que nessas planícies feitas
de libertinagem, tenha por companhia
 essa luz uniforme e cálida do dia
 com os seus matizes e os seus perfumes
 prenhes de papoilas e mal-me-queres
 ensopados de ácidos estrumes
 com raiva depositados no ventre terra
 e a partir dela desabrocha a natureza
 tão meiga, tão generosa, tão aveludada
 que tanto se deseja e tanto se quer
 pelo restolho árido de cada madrugada
 febril a mitigar a sede em riacho puro
 até que pela noite ribombe e escuro
 num sonho morno feito de bem-me-quer.

5 de Agosto de 2014 




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