quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Canções do Ceguinho - Recolha e adaptação de Raizonline


Canções do Ceguinho - Recolha e adaptação de Raizonline

 As «Canções do Ceguinho» foi uma actividade cultural (sub-cultural para alguns) que quase caiu no esquecimento - embora haja ainda quem se lembre dos folhetos vendidos e cantados por cegos em mercados e romarias. Esses cegos, que se faziam acompanhar por uma concertina ou um bandolim, cantavam histórias de uma violência tão real que parecia inventada. Ao mesmo tempo vendiam folhetos que continham os versos e algumas ilustrações a condizer.

 Muitas vezes eram ajudados pela mulher ou por uma criança que estendia a mão à caridade. Outras vezes eram apenas acompanhados por um cão. Os folhetos inscrevem-se na tradição da literatura de cordel e são preciosos documentos sobre um quotidiano feito de violência: sangue, faca e alguidar.

Vem de muito longe a memória dos cegos papelistas que, por mercados, feiras e romarias, apregoavam casos estranhos, sucessos inauditos, virtudes hagiográficas e relatos noticiosos, às vezes prognósticos e adivinhações.

Tirando partido do lugar de sapiência e justeza que ao cego se atribui, anunciavam matéria oscilante entre a mistificação e a informação, entre a crendice e o pitoresco informativo, entre os casos conhecidos e as tragédias de folhetim, por vezes ao som rouco do harmónio ou da rabeca. 





1 comentário:

  1. Que delícia ler este texto. Eu não sei se me lembro deles, se calhar não. Talvez os relembre em outras memórias. Agora também os há quase iguais, mas sem poesia.

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