quinta-feira, 1 de maio de 2014

Quanta distância nos separa do que nos falta? - Texto / Crónica de Gociante Patissa


Quanta distância nos separa do que nos falta? - Texto / Crónica de Gociante Patissa

 O bar perdeu parte de sua graça sem a Edna, a atendedora mais experiente. Cansou-se. Há lá empregadas novas. Alguns clientes vivem a falta de rapidez e domínio dos seus hábitos de consumo. Só mesmo um livro para atenuar a impaciência, ou então ter Internet no telemóvel. Pois é, o móvel anda cada vez mais armado em que «pode tudo».

E por falar no super poder do telemóvel, fomos abordados – mais a mim do que ao colega de serviço com quem fui almoçar – por uma moça que queria ajuda para emprego. Não que lhe faltasse trabalho, mas essencialmente porque, em suas próprias palavras, não aguenta mais. Dentre os vários factores para a ruptura, destacou-se o facto de não ser permitido falar ao telefone durante as oito horas de serviço, de segunda à sexta-feira. Você já imaginou?, indagava, incrédula da sua própria sorte, a rapariga.

 Por acaso, não me posso queixar. O meu emprego, longe do gosto e vocação, não proíbe o uso de telemóveis, exceptuando a tácita deontologia nas horas de pico. E de facto, o telemóvel dá para o tudo inenarrável em termos criativos e de comunicação. Só não deixei de sentir um choque – ingénuo, reconheço – ao confirmar como, à velocidade do banal, o telefone do bolso evoluiu para instrumento de escuta. Se antes receávamos que alguém, algures nas telecomunicações, ou contra-inteligência, monitorava a nossa privacidade, hoje basta um simples software compatível ao sistema andróide para gravar telefonemas. Enfim… Se Benguela é a segunda capital (de facto) angolana, e como tal tão exposta à «era digital», o típico citadino com um aguçado «bicho» de se exprimir não escapa à tendência de alistar a comunicação nas altas rubricas do seu orçamento.



Sem comentários:

Enviar um comentário