sexta-feira, 16 de maio de 2014

And if it is not love then it's the bomb, the bomb... - Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»


And if it is not love then it's the bomb, the bomb... - Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»

Depois de muitos dias intensivos de estoicismo apercebi-me que continuo extremista. Depois de ter dedicado alguns anos à investigação afincada do projecto hedonista, tomando o prazer e o riso como missão, retornei a Lisboa com a minha revolução sexual concluída, as finanças arruinadas e com os nervos algo descompensados.

Há este problema de fundo com a via do êxtase: toma-se o momento presente como absoluto e tudo o resto vai colapsando. Mas é preciso ter a coragem de destruir, já dizia o Stirner, e não lamento os dias esbanjados.

 Decidi então experimentar o outro extremo, a atitude estóica, ocupando os dias a ler, a trabalhar e a cozinhar. Resultado: tornei-me uma dona- de -casa com alguns laivos intelectuais e aprendo a persistir e a contrariar a minha inquietação. A coisa corre bem. Mas chego à conclusão que a doutrina do meio-termo enunciada por Aristóteles é a mais acertada.

Desde que me conheço que desprezo a palavra «moderação»mas a minha aprendizagem revela-me que é preciso ir por aí para viver bem, ou viver menos mal. Ao clamor tchekhoviano «é preciso trabalhar!», é preciso adicionar «é preciso conhaque!» Em nome da saúde mental, é preciso ter horários para servir o dever narcóticos e horários para desatinar e descompensar: é tudo, com efeito, uma questão de dosagem.





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