quinta-feira, 1 de maio de 2014

Prosa de Ilona Bastos - COR-DE-CHUMBO - Dulce


Prosa de Ilona Bastos - COR-DE-CHUMBO - Dulce

Sem precisar de se olhar no espelho compreendeu que novamente devia ter o aspecto de uma pessoa abatida: a tez baça e macilenta, os ombros fechados sobre o peito, os olhos piscos - como quem não vê -, o pensamento sem Norte.

 Puxou de um papel amarelo, quadriculado, e começou a escrever, em letrinhas tão minúsculas quanto o seu ego - inversamente proporcionais à sua vontade de gritar, bem alto, num desabafo universal. Se pudesse, pediria emprestado um megafone gigante e passear-se-ia pelas ruas como uma louca, berrando desesperadamente, libertando fios e fios de lágrimas que não acalmam - como num sonho ou num pesadelo.

 Com esforço, simulou um ar natural e deitou a mão ao telefone. Discou os números. Depois falou, combinou, em voz calma, quase embargada, quase espontânea. Mentalmente, pressentiu as fífias do seu discurso, mas riu para esconder o sofrimento, e desligou.

 Grande foi a ansiedade a tarde toda. Os minutos pareciam não querer passar, nem no relógio, nem no ar, onde se sentia uma dormência não habitual. E foi então que o telefone tocou e voltou a requerer a sua atenção.

Quando pegou no auscultador sabia precisamente o que iria ouvir: o desmentido da combinação anterior. E é claro, o encontro ficava sem efeito.

Leia este tema completo a partir de 10 de Maio de 2014 carregando aqui

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