quarta-feira, 28 de maio de 2014

Macacos e gente - Por Cecílio Elias Netto


Macacos e gente - Por Cecílio Elias Netto 

 Acho estranho alguém se ofender por ser chamado de macaco. Pois, em tempos tão cruéis, macaco é que deve se ofender se for chamado de gente, de certa gente.

 Não creio que a questão – ainda em nível universal – seja de preconceito. Pelo contrário, acredito seja falta de conceitos. Jamais teria, eu, a audácia de escrever a respeito dos profundos significados de conceito. Digamos – superficialmente como cabe a um cronista de jornal – seja, o conceito, um signo, uma marca, a essência da coisa. Seria mais ou menos assim: uma coisa não pode ser de modo diferente daquilo que é. Logo, abacaxi não pode ser banana.

 A referência a frutas não foi acidental. Pois estamos em momentos tão malucos que jogamos todas as frutas numa mesma cesta, misturando maçãs, peras, abacates, bananas, uvas, mangas – não mais sabendo aquilo que é o quê. E, na vida em sociedade, acontece o mesmo: vale tudo, não se sabe quem é quem, a diferença entre valor e preço, entre moral, imoral e amoral. Ora, faltando conceitos, é estupidez falar-se em preconceitos. Em especial, em relação ao chamado ser humano, ignorantes que nos tornamos do conceito e do significado de humano.

 Chamam-se pessoas de vaca, de cadela, de égua, de cavalo, de veado, de porco, de cachorro, de burro. E, também e obviamente, de macaco. Mas o homem não percebeu, ainda, que os conceitos se perderam ou se confundiram na bagunça geral. Falar-se, hoje, por exemplo, em «vida de cachorro», é referir-se a uma vida privilegiada, leve, fácil, feliz. Pois cães e gatos – em alguns setores da sociedade – estão mais bem protegidos e cuidados do que milhões dos antes chamados «seres humanos», transformados em rebotalhos incômodos, descartáveis.




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