A morte do Mário - Conto / Crónica de Daniel Teixeira
Sentir medo é uma coisa natural que quase ninguém reconhece ter ou ter tido. Sentir aquele medo muito forte, aquele medo que nos persegue, aquele medo que nos não dá descanso é mais raro acontecer, mas acontece ...e eu soube disso, tive contacto com esse mesmo medo era ainda uma criança.
Esta história que eu não deveria contar tem muito poucas palavras. Dizem que o medo é um sinal interior nosso, uma defesa, um alarme, assim como a dor quando dói e dizem que tudo isso nos faz falta. Certo, até aí eu aceitei sempre.
Mas sempre me perguntei se o medo nos faz falta assim, se o medo nos faz falta desta forma, quando o medo para além do seu próprio peso arrasta o remorso por se ter tido medo.
O «Marinho» era um dos vários filhos de uma família daquelas que agora se diz ser uma família abaixo, (muito abaixo mesmo), do nível da pobreza. Era miserável, naquele outro tempo e sê-lo-ia agora também, não interessa qual o termo que se use porque a miséria não tem dicionário.
O pai do «Marinho» metia-se muito nos copos - era naquele tempo em que havia tabernas como hoje há snack bares - e a família era talvez também por isso uma desgraça completa.
Todos, menos a senhora Maria, que era quem tentava fazer alguma coisa daquela família. Pouco conseguia, embora se esfalfasse a trabalhar, vendendo ocasionalmente leite de porta em porta, nesse tempo, fazendo limpezas, sendo muito querida pelas senhoras da classe média que lhe lastimavam a sorte, enfim...era uma boa senhora.
Ainda tenho gravados os seus gritos de dor quando lhe meteram o filho no caixão de madeira simples pintada de negro, pintada a pincel, o caixão «social» da altura: «Querem meter o meu menino nesse lugar tão escuro...» gritava e isso faz-me sempre lembrar o irmão dele quando chegou ao pé de nós atropelando as palavras: «O meu irmão...desapareceu...caiu nas funduras!»
E este termo funduras faz-me lembrar por sua vez o negro do caixão e as palavras da senhora Maria: «Querem meter o meu menino nesse lugar tão escuro!»
Sentir medo é uma coisa natural que quase ninguém reconhece ter ou ter tido. Sentir aquele medo muito forte, aquele medo que nos persegue, aquele medo que nos não dá descanso é mais raro acontecer, mas acontece ...e eu soube disso, tive contacto com esse mesmo medo era ainda uma criança.
Esta história que eu não deveria contar tem muito poucas palavras. Dizem que o medo é um sinal interior nosso, uma defesa, um alarme, assim como a dor quando dói e dizem que tudo isso nos faz falta. Certo, até aí eu aceitei sempre.
Mas sempre me perguntei se o medo nos faz falta assim, se o medo nos faz falta desta forma, quando o medo para além do seu próprio peso arrasta o remorso por se ter tido medo.
O «Marinho» era um dos vários filhos de uma família daquelas que agora se diz ser uma família abaixo, (muito abaixo mesmo), do nível da pobreza. Era miserável, naquele outro tempo e sê-lo-ia agora também, não interessa qual o termo que se use porque a miséria não tem dicionário.
O pai do «Marinho» metia-se muito nos copos - era naquele tempo em que havia tabernas como hoje há snack bares - e a família era talvez também por isso uma desgraça completa.
Todos, menos a senhora Maria, que era quem tentava fazer alguma coisa daquela família. Pouco conseguia, embora se esfalfasse a trabalhar, vendendo ocasionalmente leite de porta em porta, nesse tempo, fazendo limpezas, sendo muito querida pelas senhoras da classe média que lhe lastimavam a sorte, enfim...era uma boa senhora.
Ainda tenho gravados os seus gritos de dor quando lhe meteram o filho no caixão de madeira simples pintada de negro, pintada a pincel, o caixão «social» da altura: «Querem meter o meu menino nesse lugar tão escuro...» gritava e isso faz-me sempre lembrar o irmão dele quando chegou ao pé de nós atropelando as palavras: «O meu irmão...desapareceu...caiu nas funduras!»
E este termo funduras faz-me lembrar por sua vez o negro do caixão e as palavras da senhora Maria: «Querem meter o meu menino nesse lugar tão escuro!»
Sem comentários:
Enviar um comentário