A solidão dos idosos - O Lugar - Por Maria José Vieira de Sousa
Recolhido em Livres Pensantes
Quando voltou ao salão de convívio teve pela primeira vez consciência plena da segregação etária que as novas gerações estavam a impor. O convívio e a coabitação intergeracionais estavam, efectivamente, em processo de regressão, senão mesmo em declarada extinção.
O quadro com que deparou nessa manhã, naquele salão, impôs-lhe abruptamente a dolorosa assunção dessa realidade chocante que nunca se dispusera sequer a formalizar.
O Lugar era a morada de uma só geração: a geração dos velhos.
Apesar do conforto discreto que a decoração emprestava ao salão, sentia-se no ar o silêncio frio e mudo da tristeza que enferma a solidão.
Estariam aí cerca de quinze pessoas. Algumas estavam confortavelmente sentadas em cadeirões reclináveis junto a uma grande televisão que estava ligada com o som no mínimo, quase inaudível. Outras, que teriam problemas locomotores, estavam acomodadas em cadeiras de rodas perto das grandes portas envidraçadas que davam para o terraço. Entre elas, distribuíam-se mesas intercaladas com jornais e revistas. No canto direito, oposto ao da televisão, havia duas mesas de jogo: uma com um tabuleiro de xadrez e a outra com baralhos de cartas. Ambas estavam vazias.
Dois grandes sofás de cabedal castanho completavam o «decors» do salão , onde dormitavam ostensivamente duas senhoras com os cabelos brancos muito alisados. Pelas semelhanças do porte pareciam irmãs gémeas, já que era impossível ver os rostos que estavam pendidos sobre o peito .
No terraço, existiam algumas cadeiras de madeira forradas com grossas almofadas amarelas e foi lá que conheceu o único casal do Lugar: os Lacerda.
Estavam sentados em frente de uma pequena mesa, onde havia sido colocado um tabuleiro com duas chávenas de chá. Falavam um com o outro olhando para o jardim. Assim que deram pela sua presença, o Dr. Lacerda levantou-se e convidou-a a sentar-se numa cadeira vaga da mesa.
Recolhido em Livres Pensantes
Quando voltou ao salão de convívio teve pela primeira vez consciência plena da segregação etária que as novas gerações estavam a impor. O convívio e a coabitação intergeracionais estavam, efectivamente, em processo de regressão, senão mesmo em declarada extinção.
O quadro com que deparou nessa manhã, naquele salão, impôs-lhe abruptamente a dolorosa assunção dessa realidade chocante que nunca se dispusera sequer a formalizar.
O Lugar era a morada de uma só geração: a geração dos velhos.
Apesar do conforto discreto que a decoração emprestava ao salão, sentia-se no ar o silêncio frio e mudo da tristeza que enferma a solidão.
Estariam aí cerca de quinze pessoas. Algumas estavam confortavelmente sentadas em cadeirões reclináveis junto a uma grande televisão que estava ligada com o som no mínimo, quase inaudível. Outras, que teriam problemas locomotores, estavam acomodadas em cadeiras de rodas perto das grandes portas envidraçadas que davam para o terraço. Entre elas, distribuíam-se mesas intercaladas com jornais e revistas. No canto direito, oposto ao da televisão, havia duas mesas de jogo: uma com um tabuleiro de xadrez e a outra com baralhos de cartas. Ambas estavam vazias.
Dois grandes sofás de cabedal castanho completavam o «decors» do salão , onde dormitavam ostensivamente duas senhoras com os cabelos brancos muito alisados. Pelas semelhanças do porte pareciam irmãs gémeas, já que era impossível ver os rostos que estavam pendidos sobre o peito .
No terraço, existiam algumas cadeiras de madeira forradas com grossas almofadas amarelas e foi lá que conheceu o único casal do Lugar: os Lacerda.
Estavam sentados em frente de uma pequena mesa, onde havia sido colocado um tabuleiro com duas chávenas de chá. Falavam um com o outro olhando para o jardim. Assim que deram pela sua presença, o Dr. Lacerda levantou-se e convidou-a a sentar-se numa cadeira vaga da mesa.
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