O mestre que disso não passava - Texto / Crónica de Gociante Patissa
«Os mestres mentem, todos eles. O pedreiro não entrega no prazo acordado; o mecânico tem sempre uma desculpa; o canalizador, tirando proveito da semelhança nas três primeiras sílabas, faz-se canalha perfeito; o electricista é outro a quem é arriscado confiar, tão arriscado como seria pôr a mão no fogo pelo ladrilhador ou pelo pintor, enfim... Será que devo mesmo voltar à escola para o mestrado?», lia-se.
Lágrimas molhavam o sorriso do velho Jornal (que por acaso caminhava para a terceira idade). Acabava de abrir o envelope, mas mantinha escancarada a caixa postal 208. Tinha o estranho hábito de só trancar a portinhola depois de lida a carta, como se, por eventual desgosto, conseguisse devolver a correspondência com o gesto mecânico de enfiar o papel e girar a chave em tácito gesto de «assunto encerrado!»
Do discreto guichet, a funcionária dos CTT (que o falecido velho Cimuku decifrava, com saudável malandrice, como sendo Continua Tudo Torto) via tudo, no silêncio que exigia o amontoado de emoções, quiçá, contraditórias. Abrir ansiosamente o apartado ao tilintar do porta-chaves, levar o correio ao peito, lacrimejar, gestos vagarosos. Era sempre um pequeno evento cada visita do velho Jornal aos Correios. Era semanal. Mudavam-se os selos, as datas dos carimbos de entrada e saída, mas dois elementos eram inalteráveis: o remetente e o receptor.
Leia este tema completo a partir de 20 de Maio de 2014 carregando aqui
«Os mestres mentem, todos eles. O pedreiro não entrega no prazo acordado; o mecânico tem sempre uma desculpa; o canalizador, tirando proveito da semelhança nas três primeiras sílabas, faz-se canalha perfeito; o electricista é outro a quem é arriscado confiar, tão arriscado como seria pôr a mão no fogo pelo ladrilhador ou pelo pintor, enfim... Será que devo mesmo voltar à escola para o mestrado?», lia-se.
Lágrimas molhavam o sorriso do velho Jornal (que por acaso caminhava para a terceira idade). Acabava de abrir o envelope, mas mantinha escancarada a caixa postal 208. Tinha o estranho hábito de só trancar a portinhola depois de lida a carta, como se, por eventual desgosto, conseguisse devolver a correspondência com o gesto mecânico de enfiar o papel e girar a chave em tácito gesto de «assunto encerrado!»
Do discreto guichet, a funcionária dos CTT (que o falecido velho Cimuku decifrava, com saudável malandrice, como sendo Continua Tudo Torto) via tudo, no silêncio que exigia o amontoado de emoções, quiçá, contraditórias. Abrir ansiosamente o apartado ao tilintar do porta-chaves, levar o correio ao peito, lacrimejar, gestos vagarosos. Era sempre um pequeno evento cada visita do velho Jornal aos Correios. Era semanal. Mudavam-se os selos, as datas dos carimbos de entrada e saída, mas dois elementos eram inalteráveis: o remetente e o receptor.
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