quarta-feira, 2 de abril de 2014

Saudade


Saudade
Recolhido em Livres Pensantes

 «L’expression d’un sentiment est toujours absurde» Paul Valéry

 Regressar ao meu país é sempre um exercício de profundo prazer e de grande emoção. Senti-o inúmeras vezes. A sensação de retorno ao chão que nos é familiar supera a alegria do filho pródigo que regressa a casa.

Não foi um abandono. Não foi uma deserção. Não foi um malquerer. Não foi uma desilusão. Não foi um ponto final e nem sequer uma interrupção. Foi tudo e desse tudo nunca foi nada.

Foi um sair para voltar. Foi um deixar para retomar. Foi um adeus para acenar. Foi um partir para regressar. Foi um interromper para recomeçar.

E recomeçar é amar. E amar é redescobrir. E redescobrir é sonhar. E sonhar é estar aqui.

Aqui, com as palavras que se soltam sem comando . Palavras que acorrem para redesenhar uma saudação. Palavras que pretendem apelar. Palavras que gritam e acenam: estamos aqui. Sejam bem-vindos.

Neste espaço que esteve vazio, mas nunca ausente, retomo o meu país.

O meu país de dias claros e sol dourado ausentou-se. No entanto, o meu país permanece inteiro, igual ao dia em que parti. Cinzento, crispado, mergulhado numa Primavera chuvosa que pretende anunciar um Abril distante onde o sonho comandou e a utopia se esfumou.



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