sexta-feira, 4 de abril de 2014

Ciganos - Conto / Crónica de VIRGINIA TEIXEIRA


Ciganos - Conto / Crónica de VIRGINIA TEIXEIRA 

A erva cresce selvagem em ambas as margens do rio. Naquela zona parece alargar o caudal do rio e as margens separam-se mais, e o som do povo, tão ruidoso e alegre, não chega a galgar a outra margem.

Parecem parte da natureza, não são vistos nem ouvidos, e sentem-se seguros para ali ficar algum tempo. Montam as tendas com os panos envelhecidos mas ainda coloridos e distribuem as tarefas pelos homens, enquanto as mulheres se juntam na tenda maior e aquecem a comida nas grandes panelas que parecem vibrar quando são retiradas da caravana.

 As crianças brincam na beira do rio, fascinadas pelos seixos e peixes que abundam naquela margem, e ajudam os anciãos a pescar.

Seguem sempre o rio, não sabem já se por hábito apenas, e quando o começaram a fazer, mas não se recordam de o fazer de outra forma. Seguem o rio e descansam nas margens, onde podem banhar-se e lavar a roupa e as louças.

Ficam alguns dias, depois partem. Geralmente vivem das feiras ambulantes onde as mulheres se dedicam à leitura das palmas das mãos e ao Tarot, e os homens gritam pregões chamativos para vender peças de artesanato e roupas feitas por eles mesmos.

Por vezes, nas terras onde têm sorte, são chamados a actuar com os seus instrumentos e animar festas com a música que, apesar de considerada profana, é apreciada por grande parte dos boémios e burgueses cansados das normas sociais. 



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