sábado, 5 de abril de 2014

A Mulher na cidade do homem - Texto de Sophia Mello Breyner Andresen


A Mulher na cidade do homem - Texto de Sophia Mello Breyner Andresen

Retirado de Livres Pensantes 

  «[...] Quando olhamos para o passado vemos que a contribuição da mulher no mundo da criação é muito limitada. As leis, a filosofia, a matemática, a pintura, a arquitectura, a escultura, a música foram quase exclusivamente criadas por homens. A mulher aparece nalgumas artes como intérprete, raramente como autora.

 Isto «parece mostrar» que a capacidade criadora da mulher só existe em planos secundários ou subsidiários.
 Mas há uma excepção que nos coloca no centro do problema.
 Esta excepção é a poesia.

 Sapho, Emily Brontë, Emily Dickinson, Louise Labé são poetas na plenitude da criação. Para além do tempo e das mutilações, um fragmento de Sapho conserva aquele poder de invocação total que é a marca de fogo da grande poesia. E da nossa época não poderei deixar de citar Edith Sitwell, Nelly Sachs, que este ano recebeu o prémio Nobel, Gertrude Von Le Fort, que é um dos grandes poetas da transcendência, e Cecília Meireles que é um dos cimos da moderna poesia brasileira.

 Esta excepção que a poesia é coloca-nos no centro do problema por duas razões: porque nos esclarece sobre a situação da mulher, porque nos esclarece sobre a natureza e a vocação de humanidade total da mulher.

 A poesia é a arte que menos depende da contingência. Para escrever um poema é preciso ser poeta e depois basta um papel e um lápis.




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