O FANTASTICO NA PROSA ANGOLANA - Por Manuel Fragata de Morais - ISAQUIEL CORY - O ULTIMO FEITICEIRO
Quem for a Catete, via Luanda, há-de encontrar, nos arredores de Mazozo, bem junto à dita estrada nova, em contraposição à outra, velha, inteiramente abandonada ao capim e aos passos infatigáveis dos camponeses locais, um embondeiro outrora majestoso, caído, derrotado pelas forças humanas da destruição. Foi a partir daí, dessa paragem que o povo chama do «Embondeiro Caído», que fui vencendo o longo percurso ravinado até à sanzala que viu os meus pais nascerem.
Ao longo do caminho seco e pedregoso, inadvertidamente, fui espantando os animaizinhos que se banhavam de sol.
Com as costas húmidas e encurvadas de cansaço e os olhos semicerrados parei, finalmente, diante de Mazozo. As primeiras casas, de pau a pique, estavam espalhadas, separadas umas das outras por largos e extensos de terreno coberto de capim. Galinhas e respetivas crias andarilhavam de um lado para o outro, à cata de alimentos. As únicas criaturas humanas visíveis eram algumas crianças de tronco nu, descalças, que se moviam com extrema lentidão.
Se em Luanda já notara uma certa lentidão no jeito como a vida se desenrolava, comparativamente a Londres, agora em Mazozo esse «não ter pressa» de nada, essa maneira rotineira e lenta de viver, dava-me a impressão de estar diante de um écran gigante com as imagens a passarem em câmara lenta. Interroguei-me se um écran desses, colocado em Mazozo, causaria o mesmo efeito que numa cidade. Captariam, os telespectadores locais o tempo e o ritmo diferente das imagens? Se as suas vidas já eram lentas não lhes ficaria melhor as imagens em câmara lenta?
Por breves momentos as crianças olharam-me com muita curiosidade mas depois retornaram às suas lentas brincadeiras. Chamei uma delas, que se aproximou devagar.
- Tudo bem? Onde é que mora o velho Chico Maria?
- O feiticeiro? – A criança, dos seus nove anos, falava num tom próprio dos naturais de Catete e denotava no seu português um forte sotaque kimbundo.
- Sim – respondi.
Quem for a Catete, via Luanda, há-de encontrar, nos arredores de Mazozo, bem junto à dita estrada nova, em contraposição à outra, velha, inteiramente abandonada ao capim e aos passos infatigáveis dos camponeses locais, um embondeiro outrora majestoso, caído, derrotado pelas forças humanas da destruição. Foi a partir daí, dessa paragem que o povo chama do «Embondeiro Caído», que fui vencendo o longo percurso ravinado até à sanzala que viu os meus pais nascerem.
Ao longo do caminho seco e pedregoso, inadvertidamente, fui espantando os animaizinhos que se banhavam de sol.
Com as costas húmidas e encurvadas de cansaço e os olhos semicerrados parei, finalmente, diante de Mazozo. As primeiras casas, de pau a pique, estavam espalhadas, separadas umas das outras por largos e extensos de terreno coberto de capim. Galinhas e respetivas crias andarilhavam de um lado para o outro, à cata de alimentos. As únicas criaturas humanas visíveis eram algumas crianças de tronco nu, descalças, que se moviam com extrema lentidão.
Se em Luanda já notara uma certa lentidão no jeito como a vida se desenrolava, comparativamente a Londres, agora em Mazozo esse «não ter pressa» de nada, essa maneira rotineira e lenta de viver, dava-me a impressão de estar diante de um écran gigante com as imagens a passarem em câmara lenta. Interroguei-me se um écran desses, colocado em Mazozo, causaria o mesmo efeito que numa cidade. Captariam, os telespectadores locais o tempo e o ritmo diferente das imagens? Se as suas vidas já eram lentas não lhes ficaria melhor as imagens em câmara lenta?
Por breves momentos as crianças olharam-me com muita curiosidade mas depois retornaram às suas lentas brincadeiras. Chamei uma delas, que se aproximou devagar.
- Tudo bem? Onde é que mora o velho Chico Maria?
- O feiticeiro? – A criança, dos seus nove anos, falava num tom próprio dos naturais de Catete e denotava no seu português um forte sotaque kimbundo.
- Sim – respondi.
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