segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - Lembranças longe do Mar; Passou Janeiro...


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - Lembranças longe do Mar; Passou Janeiro...

 
Lembranças longe do Mar



Já minhas lembranças choram,
 Saudosas do mar de ondas claras
 Que me viu partir.
 Como eram minúsculas as algas,
 Os caranguejos lá no fundo,
 Os barcos que o horizonte engolia!
 Mas o mar imenso,
 Todo meu,
 Emoldurado de palmeiras,
 Todas minhas,
 As paredes nuas onde repousava meu leito,
 Todo meu...
 Já minhas lembranças choram
 O azul das vestes de nossas horas,
 Cada serão sem mágoa,
 E o fulgor das gaivotas!
 Conhecíamos cada gesto diminuto dos jacarandás,
 Cada folha tombada na calçada,
 Cada melodia vinda do firmamento.
 Conversávamos com as luzes do caminho,
 E dávamos razão à lua,
 Quando de luvas sedosas
 Nos descobria o rosto.
 As noites não tinham chão
 E desciam sobre nosso peito aberto.
 Não tínhamos segredos
 E havia poesia na prosa de nossos desabafos.
 Que mais tu tinhas,
 Que mais eu tinha,
 Senão o mar circundado de palmeiras?
 Que mais tínhamos nós,
 Senão um simples nome
 Ao tombar de cada crepúsculo?
 Expúnhamos nossas almas nuas,
 E secávamo-nos as lágrimas
 Com um simples olhar.
 Havia ruínas nos nossos peitos
 Mergulhados de abandono,
 E desilusões sucessivas
 Entre um pensamento e outro,
 Mas tínhamos o mesmo nome.
 Ainda temos o mesmo nome.

 Cremilde Vieira da Cruz




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