quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Jornal Raizonline nº 258 de 30 de Outubro de 2014 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Recordar será mesmo só reviver?


Jornal Raizonline nº 258 de  30 de Outubro de 2014 - COLUNA UM -  Daniel Teixeira - Recordar será mesmo só reviver?

Esta questão, de recordar é viver, recorrente aliás, leva-nos a pensar que existe, na sua definição, assim como que um regresso saudosista a um passado que nos marcou de uma forma mais ou menos forte. Bem, se em parte estou de acordo por razões evidentes com aquela parte da ideia que nos remete para algo marcante já acontecido, no entanto tenho algum desacordo com a redução desta terminologia a esse ou esses simples factos.

Na verdade, recordar é também uma forma de retomar, no tempo presente, não só aquilo que se recorda mas é também uma forma de nos confrontarmos, com os olhos de hoje, com aquilo que nos marcou.

Talvez por isso surja tantas vezes o chavão do «se eu soubesse o que sei hoje», não teria feito ou enveredado por um determinado comportamento ou não teria tido determinada atitude.

Assim, recordar não será apenas e só reviver: é também corrigir ou acertar determinados pontos que essa nossa recordação desperta no nosso estar presente. Ou seja, e para que me compreenda a mim mesmo, recordar não é um reviver passivo. Também é um reviver crítico. Positivo ou negativo isso dependerá sempre do tipo da recordação. Não se trata em suma, no recordar, de ter uma atitude de observador sobre o momento ou os momentos dados.

Inserimo-nos no espaço temporal do recordado e estando no nosso espaço temporal presente, tomamos posição, optamos pelo apoio ao recordado ou pela crítica ao mesmo ou ainda pela complementação.

Tudo isto para dizer, acrescentando, que tenho relido alguns livros e temas que me foram caros em determinadas alturas da minha vida. A «Antologia do Conto Ultramarino» de Amândio César, por exemplo, trouxe-me um conto de Cabo Verde, de António Aurélio Gonçalves, «O enterro de Nhã Candinha Sena» em que me confrontei com uma ideia que tenho desde há bastante tempo e que infelizmente não tenho tido tempo e vontade de lhe dar continuadade e que, curiosamente ou não, já tinha lido sem que esta história me tivesse despertado mais que a admiração pela forma como está escrito sem que o aspecto que agora considero fulcral me tivesse ressaltado no espírito.





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