domingo, 12 de outubro de 2014

O Rei da Sarjeta - Texto de Marcelo Pirajá Sguassábia


O Rei da Sarjeta - Texto de Marcelo Pirajá Sguassábia 

«Eu vou tirar você da sarjeta». Felizmente, quis o destino que ninguém dissesse isso quando ele era um zé ninguém. O que a princípio soaria como uma ação redentora e beneficente, no caso dele seria uma maldição.

O infeliz que fizesse isso privaria o mundo da oportunidade de testemunhar a saga de um dos mais bem-sucedidos empreendedores de que se tem notícia. Um homem que fez história com o suor de seu rosto e a originalidade de suas sinapses, cantadas em verso e prosa até mesmo em nossa literatura de cordel.

 Claro, o começo foi duro. Da acanhada garagem da casa de seu tio, que limitava a produção a ridículos 11 metros de sarjeta/dia, Eustáquio passou para uma pista desativada de kart indoor, localizada na zona norte de Barbacena. Dali saíam ao menos 23.600 metros diários de suas vistosas e bem afamadas sarjetas, de variados acabamentos e tamanhos, para os mercados interno e externo. Isso em tempos de vacas magras.

 O crescimento vertiginoso, no entanto, se deu com o lançamento da Mult Kolours, a linha de sarjetas coloridas - lampejo que lhe veio à mente em meio a um delírio febril de caxumba. Com ela, Eustáquio punha fim à ditadura do cinza nas nossas vias de pedestres. Sarjetas pink, verde-limão e azul-calcinha tomaram de assalto a paisagem urbana, fazendo despencar as estatísticas de suicídio junto à população e elevando-as entre os psicanalistas, psiquiatras e pastores messiânicos.

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