sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes


Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes 

 Fato provado é que falando ou escrevendo deixamos transparecer a nossa preferência para certos vocábulos ou torneios de expressão.

Afirmou o cronista Francisco Pati no antigo CORREIO PAULISTANO, que «quando se escolhe a obra completa de um escritor para uma romaria às regiões do estilo, acabamos descobrindo predileções vocabulares que constituem ou acabam constituindo verdadeiros «cacoetes».

O jornalista estava a ler «OS POBRES» do grande escritor português Raul Brandão e achou-lhe uma elegante preferência pela palavra dedada, citando alguns exemplos que aqui escrevo:

Ao descrever um banco de hospital, diz que há nele «nódoas de sangue, dedadas de aflição e suor de desgraçados que se entranhou na madeira».

Outra questão: «De que ruínas se constroem estes seres que o destino marcou com dedadas trágicas?».

Mais este: «Só a morte ainda restava intata, sem dedadas na sua roupagem negra, com todo o seu mistério e toda a sua beleza».

O próprio Pati disse o porque da preferência: «A predileção explica-se pela sua arte de escultor. Raul Brandão vive, com efeito, a dar dedadas nos seus personagens, para acentuar-lhes a expressão das respectivas máscaras.»

Quem ouviu ou leu Dom Aquino Correia percebeu logo a sua preferência para certos modos de dizer que bem o caracterizavam dentre os demais escritores ou oradores. Eram muito frequentes nele, por exemplo, os ...que se me dá, os dir-se-ia, os em meio a, os em flor e outros.



 

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