sábado, 6 de dezembro de 2014

O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira


O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira

 De calças compridas dali onde estava, eu nada percebia no seu corpo levantando-se e baixando-se sob uma figueira. De costas abaixadas aqui rente ao chão, a pessoa que eu via logo levantava o dorso mais além num emaranhado de ramos e ramagem onde despontavam pequenos pontos arroxeados.

Virou-se então um pouco e ainda ao longe na minha direcção e eu, incerto, penso ter divisado um volume de seios. Talvez fosse uma mulher que colhia figos e que olhava de quando em vez em redor de si e das figueiras como se estivesse receosa. E devia estar, pensei eu.

 As figueiras que pontuavam pelo pequeno monte não eram daquela pessoa, isso eu sabia e talvez fossem - e isso eu não sabia bem - de um homem de meia idade parecendo um pouco sujo e de barba salteada que por ali cirandava de quando em vez com um feltro escuro na cabeça e um colete sobre a camisa.

 E então a pessoa que apanhava figos deslocou-se para uma outra árvore que estava mais perto do local onde eu observava e eu então vi perfeitamente que se tratava de uma mulher de cabelo enrolado em quase carrapito e um chapéu de palha que me pareceu desfiado nos bordos que transportava duas largas cestas de verga.

Eu não tinha nada a ver com isso, quer dizer, nada tinha a ver com os figos e eles eram tantos ao longo das figueiras na pequena encosta que mesmo que estivessem a ser roubados pouca diferença fariam ao homem um pouco sujo do colete e do chapéu de feltro, se ele fosse mesmo o dono das árvores o que eu não sabia.


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