sábado, 6 de dezembro de 2014

Coluna de Liliana Josué - Conto - QUANDO AS FOLHAS CAEM


Coluna de Liliana Josué - Conto - QUANDO AS FOLHAS CAEM 

O velho Manuel era um homem alto e pesado; olhos pequenos, ligeiramente rasgados e brilhantes, de tom pardo e vivos como os de uma criança.

Os cabelos brancos ainda se mostravam um tanto vaidosos do seu vigor, emoldurando graciosamente as aquelas faces bordadas de rugas.

 Suas mãos eram mapas de gelhas, salpicadas de largas sardas acastanhadas mas ainda com alguma destreza. As pernas é que já não tinham a agilidade de antigamente e os pés arrastavam ligeiramente pelo chão.

No entanto, o seu porte era ainda contornado de certa virilidade.

 Cansado de olhar as grandes vespas do jornal, pois a vista para pouco mais dava, levantou-se do puído sofá, outrora verde, adornado de outonais folhas castanhas, saindo em direcção ao jardim perto de sua casa.

 Enquanto caminhava lentamente, nesse fim de tarde, ouvia os pássaros num cântico murmurado de saudade pelos apetecidos dias de verão.

 Manuel sentou-se num banco de madeira pintado de verde, debaixo de uma grande amoreira. As folhas fustigadas por ligeira aragem, cantarolavam nostálgicas melodias de despedida, e num recato de fim de tempo caíam uma a uma, no seu amarelo envelhecer, enquanto se ofereciam dóceis , em tapetes macios, aos pés daquele homem.

 Na relva verdejante, bandos de crianças corriam e gritavam, como pássaros acabados de aprender a voar, no seu entusiasmo de brincadeiras que só a elas diziam respeito.




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