quarta-feira, 13 de agosto de 2014

«é preciso ter cuidado quando os ditos homens sábios se aproximam a coxear.»


«é preciso ter cuidado quando os ditos homens sábios se aproximam a coxear.»

Retirado do Blogue «As leituras de Madame Bovary»

Nos últimos anos, houve um filme que me tocou particularmente: Oslo, 31 de Agosto, uma adaptação cinematográfica do livro Feu Follet de Pierre Drieu la Rochelle, já adaptado à sétima arte por Louis Malle. O protagonista, um toxicodependente em reabilitação, tem permissão para se ausentar da clínica por 24 horas e aproveita esse tempo para visitar velhos amigos e ir a uma entrevista de emprego. Por todo o lado encontra apenas desesperança e vemos que ele não tem a mínima hipótese de se safar do vazio existencial que o domina. A cena da entrevista de emprego é particularmente esclarecedora. A certo ponto, Anders exaspera-se com o entrevistador e, ao mesmo tempo que mostra a sua inteligência aguda, demonstra-nos como esta é impossível sem uma anestesia qualquer.

Franny é mais uma personagem a braços com o mesmo dilema que martiriza Anders e, antes dele, Hamlet: que fazer quando o pensamento corrói toda a capacidade de acção, quando a conhecimento impede qualquer possibilidade de comprometimento? A inteligência superior de Franny resume-se a uma faca crítica que tudo mina e ela não sabe o que fazer. Em tudo e todos, percepciona narcisismo, hipocrisia e mediocridade e envergonha-se da sua perspicácia sentindo-a como uma deslealdade e culpando-se por isso.


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