O Convite à Viagem - Cristina Branco
Se Cristina Branco estivesse virada para se inventar problemas, tinha a fórmula perfeita para um mesmo à mão. A saber: ela que, desde o início, fez questão de sublinhar que, apesar de cantar fados, não se via como fadista (ou, pelo menos, do modo como, tradicionalmente, se encara o «ser fadista»), agora que confessa sentir-se mais próxima do que nunca do espírito do fado, tanto em concerto como em disco, a percentagem de fados que inclui tende a encolher seriamente.
E, quando lhe chamo a atenção para que isso volta a acontecer no novíssimo Não Há Só Tangos Em Paris, primeiro contra-ataca («Mas estão lá dois fados tradicionais!...») e, depois, encaracolando a argumentação, acaba por levar a água ao seu moinho: «Eu diria até que é um encontro definitivo com o fado mais tradicional. Acho que me identifico mais, agora, com certos fados e, na forma como o interpreto, sinto que já consigo dizer o que quero através dele. Não é uma coisa de agora, se calhar, já vem desde o Live, nos concertos aparecem fados tradicionais. Sou mais crescida.
E é preciso maturidade. E maturidade vocal. Hoje, posso dizer que é assim que o sinto, esse é o meu fado. Antes, parecia um pardalito a cantar. Tanto pelo timbre como pela forma de interpretar. O palco e o que vamos ouvindo, o eco da nossa voz e a nossa experiência artística que nos dá isso, não é só a vida. Não me venham com essas tretas, não sou uma mulher sofrida, uma «mulher do fado»... nada disso, muito pelo contrário, acho que tenho uma vida perfeitamente normal».
Porquê, então, esta bissectriz entre fado e tango? «Gosto de me reinventar nas músicas e de descobrir coisas novas nelas, como se estivessem escondidas atrás de algumas palavras E, acima de tudo, porque têm muito em comum: ouvindo discos antigos do Gardel, de repente, dizia «Caramba, isto é um fado!...».
Tal como se poderia afirmar que «A Moda das Tranças Pretas» é um tango... «Exactamente!» Porém, o índice de surpresas - não - fado neste álbum vai bastante mais longe do que isso, acolhendo também «Les Désesperés», de Jacques Brel, ou uma inesperada melodia de João Paulo Esteves da Silva para a «Invitation Au Voyage», de Baudelaire’...»
Leia este tema completo a partir de 1/10/2012
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