sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eduardo Ferreira Moura - Conto: Ninguém

 
Eduardo Ferreira Moura - Conto: Ninguém  
 
Todo babaca acha que exerce uma profissão muito peculiar. Uma regra, quase uma lei, reescrita pela fala do povo todos os dias:
 - Taxista não é mole.
 - Vida de pedreiro é fogo.
 - Você não imagina como é ser esposa de cirurgião dentista.
 
Todos acreditam que suas funções têm peculiaridades que as tornam únicas em meio a esse oceano de ocupações inventadas para resolver problemas que não existiam antes das suas invenções. Assim, todos se disfarçam de ninguém. E ninguém é feliz.
 
Sou ajudante de entrega há três anos. Não vou cair no erro fácil de dizer que a vida de ajudante de entrega não é fácil. Até porque seria mentira. Há peculiaridades, mas não posso dizer que esses três anos na boléia do Guido tenham sido exatamente difíceis.
 
Guido é o motorista. Ele não é de falar, por isso gosto dele. Não sei se ele gosta de mim, porque ele nunca disse. Mas acho que isso é gostar, no mundo dele. Também no meu. Nesses três anos dividindo a mesma boléia em silêncio, posso dizer que a gente se conhece bem.
 
 
 
 

 
 

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