Eduardo Ferreira Moura - Conto: Ninguém
Todo babaca acha que exerce uma profissão muito peculiar. Uma regra, quase uma lei, reescrita pela fala do povo todos os dias:
- Taxista não é mole.
- Vida de pedreiro é fogo.
- Você não imagina como é ser esposa de cirurgião dentista.
- Taxista não é mole.
- Vida de pedreiro é fogo.
- Você não imagina como é ser esposa de cirurgião dentista.
Todos acreditam que suas funções têm peculiaridades que as tornam únicas em meio a esse oceano de ocupações inventadas para resolver problemas que não existiam antes das suas invenções. Assim, todos se disfarçam de ninguém. E ninguém é feliz.
Sou ajudante de entrega há três anos. Não vou cair no erro fácil de dizer que a vida de ajudante de entrega não é fácil. Até porque seria mentira. Há peculiaridades, mas não posso dizer que esses três anos na boléia do Guido tenham sido exatamente difíceis.
Guido é o motorista. Ele não é de falar, por isso gosto dele. Não sei se ele gosta de mim, porque ele nunca disse. Mas acho que isso é gostar, no mundo dele. Também no meu. Nesses três anos dividindo a mesma boléia em silêncio, posso dizer que a gente se conhece bem.
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