quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XXXVII - Por Daniel Teixeira - As cilhas

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XXXVII - Por Daniel Teixeira - As cilhas
 
Por vezes posso dar a impressão que partilho daquela ideia citadina de que os montanheiros trabalham pouco (ou quase nada, nalgumas afirmações) porque quando vamos a uma aldeia ou Monte um pouco antes da hora do almoço e logo depois desta hora os encontramos normalmente sentados nos poiais das suas casas, ou no caso também nos poiais das tabernas, isto sobretudo no Verão que é quando o pessoal se aventurava a andar por lá de carro.

Os caminhos de terra batida eram muitas vezes autênticos lagos no Inverno, a visão do estado da estrada por debaixo do lençol de água era necessária e não a havia e era frequente entre covas e pedras haver uma porradas valentes na parte de baixo do carro que mesmo blindados não chegavam para as encomendas. Ainda amolguei uma dessas chapas uma vez, mesmo indo a passo de boi e era uma chatice maior porque não havia material para as endireitar (prensas) provisoriamente e acabavam por ficar a ferir as partes interiores do material mais sensível que essas chapas tinham por função proteger.
 
Por isso, e não só, no meu caso, as viagens eram feitas sobretudo em período fora das chuvadas o que apanhava muitas vezes o pino do Verão e era então que encontrávamos o pessoal todo abrigado da calma, à sombra ou mesmo dormindo a sesta o que podia ter lugar em qualquer lado que não nos entortasse muito as costas. Os poiais eram o supra sumo da soneca, com largura a jeito e comprimento a gosto, com as mãos atrás da cabeça a fazer de travesseiro era uma categoria mesmo.

Bem, como já escrevi noutras crónicas o pessoal nestas alturas levantava-se extremamente cedo, por vezes faziam-se a caminho ainda de noite de forma a chegar ao alvorecer às hortas e quando se chegava lá ou pelo caminho tinha-se oportunidade de sentir e ver por vezes uma variedade grande de bicharada «exótica», desde os fugidios coelhos aos não menos assustadiços furões. Para cobras ainda era cedo mas havia por lá autênticas pitons que embora não estivessem ali senão a tratar da sua vida eram um pouco assustadoras e bem camufladas nas suas cores que quase as pisávamos.
 
 
 

 
 

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