sábado, 29 de setembro de 2012

Conto sentido - Conto de Daniel Teixeira

 
Conto sentido - Conto de Daniel Teixeira 
 
Era uma vez uma família pequena, só pai, mãe e dois filhos um dos quais ainda de peito. Viviam numa pequena quinta que era propriedade do senhor e pagavam pelo arrendamento um terço das suas colheitas. Pai e mãe trabalhavam muito.
 
O filho mais velho, com apenas cinco anos, ajudava no que podia com a sua idade, tratando do irmão quando a mãe tinha de ir trabalhar, indo buscar água ao poço, dando de comer às galinhas e a um porco que tinham num chiqueiro, que é assim como que um cercado que era só dele, porco, e onde ele chafurdava e tinha duas gamelas, uma para a água e outra para os restos dos alimentos que sobravam das parcas refeições em casa.
 
Andava um dia o porco a chafurdar na terra e o seu focinho sentiu uma coisa mais dura do que as pedras que encontrava quando ia mais fundo tentando desbravar as raízes das plantas. Não chamou ninguém para ir ver do que se tratava, porque não falava e nem sequer isso lhe viria à ideia caso falasse, e se tivesse ideia.
 
Mas ficou curioso como só os porcos sabem ficar: quer dizer, a maneira que os porcos têm de se mostrarem curiosos e intrigados é voltarem várias vezes ao mesmo sítio e insistirem - neste caso tentando por a descoberto - e ver e cheirar o que os intriga.
 
Foi, o porco, fazendo uma buraco cada vez mais fundo mas também cada vez mais largo e a tal coisa mais rija que as pedras que encontrava enterradas ia-se mostrando cada vez maior, mais larga e mantinha-se tão rija quanto antes.
 
Não pensava - se pensasse - o porco, em pedir ajuda para por a descoberto aquilo que o intrigava e pensava (se pensasse) em tudo o que era possível: uma caixa cheia de cenouras era o mais provável que ele pensasse se pensasse uma vez que gostava muito de cenouras e isto de falar aqui de cenouras como hipótese é o narrador a imaginar porque neste tempo já os animais tinham sido desprovidos do dom de falar tal como do dom de pensar como foi visto mais acima.
 
Eram tenrinhas, as cenouras, e davam-lhe descanso aos dentes para além de escorregarem facilmente para o seu estômago pois quase se desfaziam na boca.
 
Levou nisto bastantes dias, o porco, talvez três na vida dos homens e não se sabe quantos na vida dos porcos e enquanto resfolgava cansado deitado perto da sua casinhota ia sonhando (se sonhasse) com um rico manjar de cenouras rosadas, com rama, de preferência - fazia questão disso, de terem rama, as cenouras. Para ele cenouras sem rama eram tão raras que praticamente achava que eram frutos (não sabia o que eram tubérculos) defeituosos.
 
 
 

 

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