domingo, 11 de maio de 2014

O Dr. Silva Nobre e o meu braço partido - Texto de Lina Vedes


O Dr. Silva Nobre e o meu braço partido - Texto de Lina Vedes

Data – Maio de 1948
 LOCAL – CASA DO ALENTEJO, situada, na altura, na Rua Baleizão, num 1º andar, por cima da SALCO – Sociedade Algarvia de Combustíveis.

 Aconteciam, nesse local, encontros semanais de alentejanos, residentes em Faro. Como «penetra»e vizinha, partilhava, por hábito, dos convívios dos nascidos no Alentejo.

 Com gente da minha idade, a brincadeira consistia em escorregar no soalho encerado. Dava balanço com uma corrida e tentava equilibrar-me, deslizando pelo chão. Já tinha determinada técnica e considerava-me campeã, pois aguentava-me mais tempo que os outros.

 Sucedeu, talvez por excesso de confiança, correr, lançar-me como se os sapatos fossem patins, mas por motivo imprevisto, estes travaram repentinamente, obrigando-me a saltar e cair desamparada. Por instinto, devo ter esticado o braço esquerdo. Oiço um estalo, levanto-me de imediato, e vejo o braço com algo, a sobressair sob a pele. Com a mão direita componho o «defeito» e fico pressionando o pulso, parando com a brincadeira.

 Alguém reparou na minha atitude, encolhida a um canto, assustada, com receio da reprimenda. Chamam a mãe, que me leva de imediato ao hospital, que ficava junto da Igreja da Misericórdia, em frente ao Jardim.

As portas estavam fechadas, tanto a principal como as laterais. A todas, minha mãe bateu, mas não se abriram.Chega outro doente com urgência e os batuques nas portas duplicaram. Junta-se gente a refilar, pelo procedimento habitual das freiras.



 

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