um livrinho precioso - Texto recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»
«A própria localização do Pátio Maldito era estranha, como se tivesse sido calculada para aumentar as torturas e os sofrimentos dos presos (frei Petar voltava muitas vezes a isto, tentando descrevê-lo).
Do pátio nada se vê da cidade, nem do porto, nem do arsenal abandonado lá em baixo na margem do estreito. Só há o céu, imenso e cruel na sua beleza e, ao longe, um canto verdejante da margem asiática, do outro lado do mar invisível, e o vértice do minarete de uma mesquita desconhecida ou da copa de um cipreste gigantesco, atrás do muro.
Tudo indeterminado, anónimo e alheio. Assim, um estrangeiro tem a sensação constante de estar numa ilha diabólica, longe de tudo o que até então para si significava vida, e sem esperança de em breve tornar a reencontrá-la.
Os presos de Constantinopla sofrem ainda um outro castigo, aquele de não ver nem sentir nada da sua cidade: estão lá, mas é como se estivessem a cem dias de viagem; e essa lonjura aparente atormenta-os como se fosse real. Por todas estas razões, o pátio, rápida e insensivelmente, dobra um homem, subjuga-o de tal modo, que acaba por se perder. Depressa se esquece de tudo o que aconteceu e pensa-se cada vez menos no que acontecerá; assim o passado e o futuro fundem-se num único presente, na terrível e insólita vida do Pátio Maldito.
«A própria localização do Pátio Maldito era estranha, como se tivesse sido calculada para aumentar as torturas e os sofrimentos dos presos (frei Petar voltava muitas vezes a isto, tentando descrevê-lo).
Do pátio nada se vê da cidade, nem do porto, nem do arsenal abandonado lá em baixo na margem do estreito. Só há o céu, imenso e cruel na sua beleza e, ao longe, um canto verdejante da margem asiática, do outro lado do mar invisível, e o vértice do minarete de uma mesquita desconhecida ou da copa de um cipreste gigantesco, atrás do muro.
Tudo indeterminado, anónimo e alheio. Assim, um estrangeiro tem a sensação constante de estar numa ilha diabólica, longe de tudo o que até então para si significava vida, e sem esperança de em breve tornar a reencontrá-la.
Os presos de Constantinopla sofrem ainda um outro castigo, aquele de não ver nem sentir nada da sua cidade: estão lá, mas é como se estivessem a cem dias de viagem; e essa lonjura aparente atormenta-os como se fosse real. Por todas estas razões, o pátio, rápida e insensivelmente, dobra um homem, subjuga-o de tal modo, que acaba por se perder. Depressa se esquece de tudo o que aconteceu e pensa-se cada vez menos no que acontecerá; assim o passado e o futuro fundem-se num único presente, na terrível e insólita vida do Pátio Maldito.
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