quarta-feira, 2 de julho de 2014

A garagem - Conto de Daniel Teixeira


A garagem - Conto de Daniel Teixeira

Ah! Como os carros eram bonitos, todos brilhantes, alinhadinhos, tão alinhados que pareciam ter sido ali metidos com as mãos como os carrinhos em miniatura das colecções, com os espaçamentos calculados quase ao milímetro e as riscas brancas cuidadosas a delimitar cada pneu, todas elas direitinhas, encostadas aos rodados todas à mesma distância, talvez vinte centímetros ou mesmo trinta para cada lado, e a realçarem do solo, quase como se tivessem espessura e não fossem antes um minucioso tracejado de tinta sem falhas.

 Lindo, simplesmente lindo - repetiu para si mesmo. Estava contente, e tinha razões para isso. Ao fim de quase dois anos a penar no desemprego tinha-lhe surgido aquela oportunidade e era o seu primeiro dia naquele emprego.

 Um amigo da Faculdade, daqueles amigos que não esquecem os amigos nunca, tinha-lhe falado de uma vaga na empresa onde trabalhava: era uma coisa para desenrascar - disse-lhe - ser vigilante na garagem era a mesma coisa que não fazer nada, era estar atento simplesmente, ser simpático com as pessoas e andar por ali...e ele andava ali, naquele primeiro dia e via os bonitos carros, via a geometria perfeita do lugar. Impecável, simplesmente impecável, tudo impecável.

 O amigo era um quadro superior na empresa, tinham sido colegas na faculdade, tinham tirado o mesmo curso e tinham acabado no mesmo ano. Depois cada um foi para a vida dele. A vida do Quaresma tinha corrido bem, a dele não tanto ou quase nada, mas não interessava agora, tinha um emprego, tinha um salário e o Quaresma segredara-lhe que as pessoas costumavam dar gorjetas, por vezes, dependia dos dias, da disposição dessas pessoas: ele só tinha que se mostrar prestável para além de se mostrar simpático e de estar «sempre sorridente» - acrescentara o Quaresma - «sempre a sorrir, percebes? - é meio caminho andado para a gorja ».

E ele mostrava um belo sorriso, quase igual àquele que tinha nos tempos de Faculdade e que tanta miúda lhe garantiu...«mas lá tens de me tratar por Dr. Quaresma - e essa coisa de termos andado juntos na Faculdade não interessa andares a dizer, aliás não interessa sequer que digas que andaste na Faculdade.» - rematou. Tudo bem - respondera, o que lhe interessava é que aquele amigo, daqueles que nunca nos esquecem lhe tinha arranjado um emprego

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